Empresa Total que lidera o megaprojecto de gás natural liquefeito evacua 500 trabalhadores
A intensificação de ataques de insurgentes a três aldeias próximas da área onde está em curso o projecto Moçambique LNG, incluindo a península de Afungi, forçou a evacuação dos trabalhadores da Total, que lidera o megaprojecto de gás no distrito de Palma, cuja vila-sede está, desde sábado, 2, sob ameaça de invasão dos rebeldes, disseram à VOA várias fontes locais.
Ante os ataques, a Total tomou a decisão de evacuar cerca de 500 dos seus funcionários no dia 1, enquanto os insurgentes distribuíram panfletos em que dizem os moradores para saírem de Pemba porque vão atacar a cidade amanhã, 5.
As condições de segurança na província moçambicana de Cabo Delgado se deterioraram com a aproximação cada vez mais dos insurgentes, que protagonizaram uma série de ataques em aldeias muito próximas ao megaprojecto de gás, segundo relatos de moradores e trabalhadores locais.
“A situação ainda se mantém, desde ontem e hoje, a população está a sofrer, muitos estão a ir até Palma a pé, ainda não tivemos a situação regularizada, estamos numa crise”, disse à VOA um morador local, descrevendo o desespero da população.
Na noite de 1 de janeiro, os insurgentes abriram fogo contra contra membros da Força Tarefa Conjunta em Quitupo, quando estes tentavam investigar a presença dos rebeldes numa casa da aldeia.
Dois insurgentes foram mortos no tiroteio.
Entre os dias 30 de dezembro e 1 de janeiro, as Forças de Defesa e Segurança (FDS) realizaram vários confrontos com os insurgentes na aldeia Monjane, onde 40 casas da população foram destruídas.
Os confrontos provocaram uma nova vaga de deslocados para Palma.
“O ataque não foi na área do reassentamento, foi perto de Quitupo, assaltaram uma das aldeias, mas com a intervenção das forças os insurgentes não conseguiram fazer aquilo que queriam”, aclarou um dos moradores duma aldeia próxima de Quitupo.
Uma das áreas mais seguras … até agora
Quitupo fica dentro da área do DUAT (Direito de Uso e Aproveitamento de Terra) e a poucos quilómetros da vedação onde estão a ser implantados os megaprojectos de gás de Palma.
A zona era até agora tida como das mais seguras e onde muitos previam recorrer em casos da intensificação dos ataques.
“Quitupo abandonaram. Não estão a abandonar, já abandonaram”, disse outro morador, relatando a história de uma mulher que chegou nesta segunda-feira a Palma, após sobreviver três dias nas matas e cuja família já estava em luto.
Total evacua trabalhadores
Após a série de ataques, a Total, que lidera o megaprojecto de gás do distrito de Palma, tomou a decisão de evacuar cerca de 500 dos seus funcionários do Projecto de GNL em Afungi a 01 de Janeiro corrente.
“Assim estou em Afungi. Na verdade, ontem (sábado) foi evacuado um número grande de trabalhadores”, sobretudo os ligados à área de construção, disse um trabalhador na condição de anonimato.
Vários funcionários locais também foram convidados a permanecer em casa em Palma até novo aviso. Os subcontratados vinculados ao projeto de GNL receberam mandato discricionário para decidir se querem evacuar ou não, disse uma outra fonte.
Ameaça sob Palma
Durante a retirada dos insurgentes, após a sequência dos ataques, o grupo deixou folhetos nos quais avisam que Palma será atacada a 5 de janeiro de 2021 e aconselham a população a deixar a área.
“Quando cruzam com as pessoas estão a dizer ‘vocês estão a fugir para um determinado lugar, nós vamos chegar lá’”, disse outro morador.
“A guerra é de verdade, não é aquilo que ouvíamos falar Mute, Mocímboa da Praia, Pundanhar, não, a verdadeira guerra está aqui. Não há acesso para Palma, todas as vias estão bloqueadas, via marítima ou via terrestre não se passa, sentamos só”, disse um activista social, adiantando que a crise se tornou “viral” para os moradores de Palma.