A Comissão Independente de Direitos Humanos no Afeganistão (AIHRC) pediu ao Reino Unido que, seguindo o exemplo da Austrália, abra um inquérito independente para investigar quaisquer indícios de homicídios ilegais por parte das forças especiais britânicas.
O pedido da AIHRC seguiu-se à divulgação de um inquérito exaustivo sobre as forças especiais australianas que revelou uma “matança ilegal de civis e prisioneiros” afegãos. O inquérito, conduzido pelo juiz estadual de Nova Gales do Sul, Paul Brereton, concluiu que, entre 2005 e 2016, 39 pessoas foram assassinadas e outras duas cruelmente tratadas por um total de 25 elementos das Forças Especiais australianas.
O relatório examinou mais de 20 mil documentos, 25 mil imagens e entrevistou 423 testemunhas sob juramento e expõe aquilo que descreve de um cultura de “desejo de sangue” e de “competição por mortes”. Há relatos de comandantes que terão mesmo forçado jovens soldados a matar prisioneiros indefesos de forma a conseguirem a sua “primeira morte”, uma prática conhecida como ´blooding` (sagramento).As forças especiais australianas lutaram principalmente na província de Uruzgan, mas ocasionalmente foram enviadas em missões relacionadas com o tráfico de droga no Afeganistão, especialmente na província de Helmand, onde operavam as forças britânicas.
Em resposta ao relatório, a presidente da AIHRC, Shaharzad Akbar, afirmou que os EUA, Reino Unido e outros países com presença armada no Afeganistão devem investigar suspeitas de atos de violência contra prisioneiros e civis afegãos.
Akbar destacou o papel das forças armadas do Reino Unido: “Em particular, a AIHRC apela ao Reino Unido para abrir um inquérito independente para avaliar e investigar suspeitas de assassinatos ilegais por parte das forças especiais britânicas”.
“De facto, as reportagens dos meios de comunicação, os relatórios da própria AIHRC e investigações de outros grupos de direitos humanos documentaram violações do DIH [Direito Internacional Humanitário] e do direito de conflito armado por outros países” acrescentou Akbar num comunicado divulgado na quinta-feira.
“Somente através de uma série de investigações independentes iremos descobrir a verdadeira extensão deste desprezo pela vida dos afegãos, que normalizou o homicídio e resultou em crimes de guerra”, sublinhou a presidente da AIHRC. “Somente por meio de mais investigações, documentação e envolvimento com as vítimas, os direitos das famílias das vítimas à verdade e à justiça serão atendidos”, concluiu Akbar.
Por sua vez, um porta-voz do Ministério britânico da Defesa argumentou que “o relatório das forças especiais australianas sobre supostas irregularidades no Afeganistão não afeta ou implica a equipa do serviço britânico”.
“As nossas forças armadas obedecem aos mais altos padrões e a polícia realizou investigações exaustivas e independentes sobre a alegada má conduta das forças do Reino Unido no Afeganistão”, sublinhou o porta-voz, citado pelo jornal britânico The Guardian, acrescentando porém que “a polícia e o Ministério Pública permanecem abertos a considerar alegações caso surjam novas evidências”.
Após a divulgação do relatório, a Austrália anunciou de imediato que 19 militares, atuais e antigos, vão ser levados a tribunal pela morte de 39 pessoas. O mais alto responsável militar australiano também fez um pedido público de desculpas “por qualquer ato ilícito dos soldados australianos”.