Natural da aldeia de Sunzi, comuna de Quibocolo, Tussevo Madalena, de 55 anos, reside desde os 15 anos em Maquela do Zombo, sede municipal. Visivelmente triste, recorda o período que era obrigada a levantar antes do pôr do sol e percorrer mais de um quilómetro até ao rio Luidi, em busca de água para tratar da higiene pessoal e os afazeres domésticos.
Quatro décadas depois, Tussevo Madalena deixou de percorrer a mesma distância por causa do precioso líquido. Porém, não disfarça a indignação por estar obrigada a desembolsar, semanalmente, dois mil kwanzas para pagar os jovens das “Nambwangongo” (designação atribuída às motorizadas de três rodas) para receber água ao domicílio. “É constrangedor viver uma vida inteira e nunca ver implementado um projecto para captação, tratamento e abastecimento de água na vila de Maquela do Zombo. Nascemos, crescemos, estamos a envelhecer, sempre na mesma rotina, consumir água imprópria do rio Luidi”, lamentou.
Mayamba António, de 21 anos, vive no bairro Nguabi. Na qualidade de filha mais velha, pesa sobre si a responsabilidade pela limpeza da casa, lavagem da louça, das roupas e apoio à mãe na confecção dos alimentos. A sua rotina diária inicia quase sempre por volta das seis da manhã. Vai até ao rio tomar banho, lavar a louça e, na mesma banheira onde carrega os objectos de uso doméstico, aproveita levar água para confeccionar o pequeno almoço e tratar da limpeza. “Tem sido uma rotina muito difícil. Ainda vislumbramos, a breve trecho, um futuro melhor com torneiras a jorrar água nos nossos quintais ou dentro das nossas residências, mas é necessário que as entidades que respondem pelo sector mobilizem recursos para a conclusão do sistema que estava em construção”, disse.
Residente no bairro 4 de Fevereiro e em breve passagem por Maquela do Zombo, para tratar assuntos pessoais, Victorina António, de 60 anos, lamentou, igualmente, a “seca” que prevalece nas torneiras da vila sede do município, localidade que abandonou há 36 anos, onde passou a infância e parte da juventude. “Antes da conquista da Independência Nacional, existiu um pequeno sistema de captação e abastecimento de água que abastecia as residências de alguns comerciantes portugueses que viviam na vila de Maquela. Vandalizado pela população, o sistema deixou de funcionar, em 1977”, recordou.Carinhosamente tratada de “Ya Nzito” pelos mais próximos, a idosa explicou que o referido sistema era pequeno e servia apenas para abastecer algumas residências. acrescentou igualmente, que o mesmo nunca teria capacidade para abastecer o município. “A população de Maquela do Zombo sempre consumiu água das cacimbas e dos rios. Já é tempo de se reverter esta triste realidade”, apelou “Ya Nzito”.
Obra paralisada há cinco anos
Em 2013, o Ministério da Energia e Águas (MINEA), por in-termédio da Direcção Nacional das Águas, deu início a construção do sistema de captação, tratamento e distribuição de água à vila de Maquela de Zombo, a partir do Rio Luidi. Dois anos depois, a empreitada que estava a ser vista como o maior presente para os habitantes parou.Sobre o assunto, o administrador municipal, Ntoto André Faitoma, disse que a única justificação que dispõe tem a ver com incumprimentos do MINEA, em relação ao empreiteiro que, em sua opinião, está na origem da paralisação.
“É uma obra de âmbito central, com 80 por cento dos trabalhos concluídos. A falta de pagamento comprometeu a entrega das obras na data prevista”, disse acrescentando que, como consequência, “a população continua a consumir água retirada dos poços e do rio Luidi. Na época de Cacimbo, as escavações ficam sem água e com baixo caudal, o rio serve de única fonte para a obtenção da água”. Ntoto André Faitoma sublinhou que, há mais de quatro anos, tem vindo a solicitar a intervenção do Governo da Província para que o projecto possa ser concluído.
Expansão da rede eléctrica
Maquela do Zombo consta das três sedes municipais do Uíge que beneficiam da energia eléctrica proveniente da Barragem Hidroeléctrica de Capanda. Dos 10 megawatts destinados à circunscrição, apenas dois são consumidos, por falta da expansão da rede eléctrica a determinados bairros.Ntoto André Faitoma explicou que a administração municipal tem estado a negociar com a direcção provincial da Empresa Nacional de Distribuição de Energia (ENDE) para que no próximo ano haja a expansão da rede eléctrica a todos os bairros da vila, algumas aldeias próximas à sede comunal de Quibocolo e ao projecto mineiro de Mavoio.”Quanto à energia eléctrica, o município de Maquela do Zombo está bem. Apenas cinco por cento dos 40 megawatts de energia eléctrica produzida na subestação eléctrica é consumida. Existe disponibilidade para que todos os bairros tenham energia, assim como as aldeias mais próximas da vila”, referiu.
Acções no âmbito no PIIM
O administrador municipal de Maquela do Zombo informou que o município foi contemplado com quatro projectos no âmbito do Programa Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), como a construção do Centro de Saúde da Regedoria de Masseque, duas escolas de sete salas de aula nas comunas do Béu e Quibocolo e a terraplenagem das ruas da vila.
Inserida no Programa
de Investimentos Públicos (PIP), uma escola de 12 salas de aula está a ser erguida na sede municipal, sendo que as obras se encontram em estado avançado de execução. Por seu turno, o Programa Integrado de Desenvolvimento Local e Combate à Pobreza (PI-DLCP) contempla a reabilitação dos sistemas de captação e distribuição de água na comuna do Béu e nas aldeias Ntaya, Malele, Kitala e Kimbata, assim com a instalação da rede de iluminação pública no Masseque.
Segundo apurou o Jornal de Angola, um mercado com capacidade de 400 lugares para vendedores está a ser erguido na sede da vila para conferir condições dignas ao comércio. Um armazém para apoio à actividade agrícola, bem como a requalificação do jardim da vila constam das obras em curso.”A construção da ponte sobre o rio Wawa, na via que liga as comunas do Béu e Kuilo Futa, está concluída e tem facilitado a circulação de pessoas e mercadorias”, disse Ntoto André Faitoma, salientando que, para o próximo ano, temos “a pretensão de construir a ponte sobre o rio Madimba, nesta mesma via, assim como continuar a erguer outras estruturas sociais”.