Activistas culpam o Presidente João Lourenço pelos incidentes de sábado, durante a marcha em Luanda por melhores condições de vida. Segundo os organizadores, duas pessoas morreram e mais de 50 ficaram feridas.
O novo protesto, marcado para 11 de novembro, visa exigir o afastamento do diretor do gabinete do Presidente da República, Edeltrudes Costa, que terá sido supostamente favorecido em contratos com o Estado, segundo uma reportagem da televisão portuguesa TVI. Os jovens pretendem também protestar contra o desemprego, a fome e a falta de oportunidades para a juventude.
A marcha de sábado (24.10), onde os jovens fizeram as mesmas reinvidicações, foi reprimida pela polícia. Segundo os manifestantes, duas pessoas morreram e mais de 50 ficaram feridas. Dezenas de pessoas foram detidas. 300 estão desaparecidas.
Os jovens são acusados de desrespeitar o decreto presidencial que entrou em vigor no sábado e que proíbe ajuntamentos de mais de cinco pessoas na via pública. Alguns manifestantes são também acusados de ofensas corporais e de danificar bens públicos. No entanto, os ativistas negam terem sido os autores dos atos de vandalismo registados durante o protesto, atirando a culpa a “pessoas infiltradas”, supostamente mobilizadas pelos serviços secretos.
“Segundo os levantamentos que fizemos, há uma chamada turma do apito, que reside no Sambizanga. […] Essa turma do apito terá sido recrutada pelos agentes dos serviços secretos e foram transportando pneus que colocaram na via pública”, afirmou o porta-voz dos promotores da marcha, Dito Dalí.
O ativista apela ao Presidente angolano, João Lourenço, que liberte os 103 manifestantes que foram detidos e estão a ser julgados desde o início da semana.
“Na sexta-feira, tivemos informações seguras de que os serviços secretos terão reunido com o Presidente, aconselhando-o a não abortar a manifestação. Mas o Presidente entendeu que a manifestação tinha de ser proibida e reprimida”, afirmou Dito Dalí durante uma conferência de imprensa esta quarta-feira (28.10).
“Só chegámos onde estamos por causa da irresponsabilidade do próprio Presidente da República. Estamos a pedir ao Presidente da República, que é ele que tem estado a instrumentalizar os tribunais para dar ordens aos juízes e procuradores, no sentido de colocar os nossos irmãos em liberdade.”
Igreja poderá mediar diálogo com Governo?
O Movimento Jovens Pelas Autarquias, que convocou a manifestação de sábado, reuniu na tarde desta quarta-feira com a Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST). No encontro foi abordado o atraso na implementação das autarquias, entre outros problemas que o país enfrenta.
Os jovens pediram a intervenção da Igreja Católica para mediar conversações com o Governo angolano, pois sentem-se excluídos do debate pela institucionalização das autarquias.
Celestino Epalanga, secretário-geral da comissão episcopal de Justiça, Paz e Migrações da CEAST, que se reuniu com os jovens, referiu que o diálogo entre as diferentes partes é fundamental.
“Somos todos angolanos e este país não pode ser privatizado. Parece-nos que o país foi privatizado, onde uma elite política que teve a oportunidade logo a seguir à independência herdou o país e pensou que o país fosse uma propriedade privada”, disse o padre angolano.