A Africell, a quarta operadora de telecomunicações, entra em funcionamento, a partir do II semestre do próximo ano, garantiu ontem, em Luanda, o presidente do Conselho de Administração do Instituto Angolano das Comunicações – INACOM, Leonel Augusto.
O responsável, que falava à margem de um encontro que visou auscultar as associações de defesa do consumidor e operadores de telefonia e televisão sobre a actualização de preços de serviços, disse que a nova operadora está a obedecer aos trâmites definidos para o exercício da actividade, cuja fase passou pela conclusão da negociação e provimento dos termos finais estabelecidos concedida à Africell a licença TGU (Titulo Global Unificado), para operar em território nacional e celebração com o Instituto Angolano das Comunicações (INACOM) o respectivo contrato de concessão.
“É um processo que obedece a várias fases e já foram cumpridas grande parte delas e estamos agora na fase da afinação dos elementos do detalhe do contrato de concessão”, disse o PCA do INACOM. Sobre os ajustes dos preços das operadoras de telefonia móvel que entram em vigor recentemente, o responsável adiantou que os serviços de telefonia móvel mantêm o valor de 100 utts em mil kwanzas, definido pela entidade reguladora.
De acordo com o responsável, as operadoras, em função da situação macroeconómica, deram entrada ao processo para actualizar os preços de alguns serviços, apontando como factor a desvalorização cambial , uma vez que 80 por cento do pagamento dos serviços é feito no exterior do país. “Apelo aos consumidores a proceder às reclamações nos canais e entidades apropriadas.
Os órgãos da linha de apoio ao consumidor têm estado com uma taxa de sucesso de mediação e resolução dos problemas acima de 90 por cento”, disse.
De acordo com Leonel Augusto, o encontro serviu para permitir que as operadoras possam se inteirar sobre as principais preocupações dos consumidores em relação a recente subida de preços.
O PCA do INACOM anunciou ainda este ano o incremento nos serviços de televisão por assinatura de 23 a 26 por cento por suportarem altos custos inerentes ao satélite e fibra óptica, mas devem acontecer de forma gradual com tectos bem definidos. Assegurou, entretanto, que o “serviço pacote base” não será alterado. E este é o que permite que pessoas, por exemplo, com pouco poder de compra continuem a ter acesso deste cujo valor anda à volta dos 2.150 kwanzas”, afirmou.
Movicel: Aumento da qualidade justifica subida de preço
A directora de marketing da Movicel, Deolinda Teixeira, disse ao Jornal de Angola que a razão principal da subida de preços se deve à necessidade de aumentar a qualidade dos serviços e procurar fazer face à concorrência. De acordo com a gestora, já se arrastava há algum tempo um volume de negócios abaixo da linha de sustentabilidade do mercado.
E por essa razão, a empresa, além de ajustar o preço dos serviços, também inovou a sua oferta uma vez que, até ao momento, a empresa praticava preços 90 por cento abaixo da tarifa base. “Porque o cliente pretende preços mais baixos e vantajosos e apenas se fideliza pela qualidade do serviço. Por esse facto a Movicel, só ajustou os preços no mesmo diapasão que também melhorou os seu serviços e com isso pretende aumentar o volume de negócios para atingir a sustentabilidade”, considerou.
Questionada sobre a reacção dos clientes em função do aumento, a responsável afirmou que qualquer alteração de preços comporta sempre factores que poderão ser considerados positivos ou negativos por parte dos clientes, mas o compromisso é de melhorar cada vez mais os produtos e serviços, com a finalidade de melhor servir.
Deolinda Teixeira informou que os hábitos de consumo dos clientes , nesta fase de pandemia, subiu e com a excepção do serviço de SMS, que se tem mantido regular, o consumo em voz ou dados vem subindo desde o II semestre de 2019 (superior a 10 por cento face ao I semestre). Para ela, em comparação de gastos com o II semestre de 2019, sem esquecer o efeito da quarentena a partir de Março de 2020, houve incremento de 8 por cento no I semestre de 2020.
“Com a pandemia, os clientes passaram a consumir muito mais, principalmente, o serviço de dados que teve um incremento médio de 27 por cento no I semestre de 2020 face aos últimos seis meses do ano anterior. O serviço de voz, por sua vez, dentro do mesmo período comparativo teve um incremento de 6 por cento.
Disse ainda que, apesar dos apertos financeiros que a maioria das empresas vive, a Movicel decidiu manter os postos de trabalho e todos os benefícios salariais e encargos sociais os trabalhadores. Actualmente, a Movicel que conta com 829 colaboradores.
Usuários ameaçam desistir dos serviços
Os custos de internet e de telefonia móvel das duas operadoras que actuam em Angola subiram consideravelmente nos últimos tempos e têm causado muitos transtornos aos consumidores. As reclamações recaem sobretudo na alteração dos planos mensais que as duas operadoras oferecem.
No caso da operadora Movicel, as reclamações incidem mais nos prazos agora impostos neste novo tarifário.
Os planos Takuiá e karga mais consumidos e que, anteriormente, eram, na sua maioria, mensais, com excepção da plano carga leve, além do aumento do preço, passaram a ter uma validade de 10, 15 e 30 dias, para os planos karga Nice, Tudo e Karga Bwe, respectivamente. Quanto ao saldo de voz, que anteriormente para a mesma rede era ilimitado varia agora de 20 a 350 min/SMS, dependendo do plano.
Os saldos de dados reduziram em mais de 50 por cento e só para citar como exemplo os planos carga “nice” e “tudo” que passaram de 500 e 1Gb,para 200 e 400 Mbs, respectivamente. No que diz respeito aos pacotes da operadora Unitel encontra o plano como Net/Dia de 400 MB, os Planos Semanal de 250 e 750 MB, e Mensal de 1,5 e 3 Gigabyte (GB).
Outra alteração consiste no aumento do volume de dados nos Planos mensais que passam agora de 3 para 6 GB e de 8 para 12 GB e consequentemente a redução no preço por gigabyte. O preço dos novos serviços planos Mais varia entre 1000 a 10.000 kwanzas mensais. A reportagem do Jornal de Angola constatou que a mudança apanhou muitos consumidores desprevenidos nesta quarentena e alguns até ameaçam deixar de consumir certos serviços por incompatibilidade financeira.
É assim que para o trabalhador bancário Aércio Leiland, “esse aumento vai pesar bastante no bolso do consumidor, porque a cada dia diminui o poder de compra do pacato cidadão, o que torna mais difícil o acesso ao dinheiro”. Para ele, “a Movicel sempre foi vista como uma rede de boas intenções, mas de pouca acção”.
Já Solange Francisco, funcionária pública, casada e mãe de três filhos, com o reajuste dos preços fez com que “ as coisas mudassem para mim”. Ela disse que usava uma tarifa mensal de 7.300 kwanzas que cobria saldo de voz e dados para todo mês e agora passou a 18500 e “achei completamente absurda esta alteração”.
“Agora com o mesmo valor já não tenho os mesmos serviços (tempo de chamada e Gb de dados) saldo não demora e a net muito lenta e com as adaptações tudo agora é feito na internet e se não te controlares acabas tendo gastos avultados só com o telemóvel”, lamentou.No que toca à Unitel, disse que tem o mesmo problema.
“A net é relativamente mais rápida dependendo de quanto carregares, mas não demora para acabar” argumentou. Para a empreendedora Djamila Francisco, as redes de telefonia, no geral, não sao compatíveis a todos os bolsos. Para ela a nova tarifa da Movicel é uma aberração principalmente pelo facto de ser uma das primeiras redes móveis e deviam rever os preçários actualizados, sob pena de perderem muitos clientes.
Para Flávia Peres, que actua no sector de beleza feminina, “se não metermos um basta nisso, os preços em Angola, não só da telefonia móvel, vão continuar a subir”.