O líder do partido justifica: “Dentro [da RENAMO] não temos esse sentimento. Isso porque sentimos que tudo que planeamos está a acontecer”. E mostra resignação em relação à Junta Militar, apelidando Nhongo de desertor.
Em Moçambique, tentativas de pôr fim às acções armadas da Junta Militar dissidente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) no centro do país têm fracassado. Tal como pilatos, o maior partido da oposição parece ter lavado as mãos para o caso. É que o seu líder, Ossufo Momade, em jeito de resignação, diz que o partido já fez de tudo, mas em vão. Em paralelo, politicamente, a RENAMO dá sinais de estar a sucumbir.
Alguns analistas defendem que o partido RENAMO esteja dividido e fragilizado. A DW África entrevistou Ossufo Momade para saber a actual situação do partido.
DW África: Há politólogos que acreditam que a RENAMO esteja dividida, falam em cisão e fragilização do partido. Isso leva-nos a questionar: como vai o partido RENAMO?
Ossufo Momade (OM): Não estamos contra a observação ou a análise das pessoas. Mas dentro [do partido] não temos o sentimento de que a RENAMO esteja dividida, ou fragilizada. Isso porque sentimos que tudo o que nós planeamos está a acontecer. As nossas atividades estão a acontecer. E ainda temos o impacto popular. Se não fosse a situação de pandemia [da Covid-19] eu poderia sair daqui e ir até Sofala, e teria uma boa recepção. Poderia ir à Zambézia, e teria uma participação maior da população. Onde é que as pessoas buscam esta informação de que a RENAMO está dividida? O partido não está dividido e há uma coesão dentro dele. Nós continuamos a trabalhar e vamos surpreender em 2023.
DW África: O país também lida com outro problema preocupante: a Junta Militar, liderada pelo senhor Mariano Nhongo. Houve algum avanço, um diálogo, entre a RENAMO e a Junta Militar?
OM: Não houve. E não há um problema comigo. Só pode ter problema com o partido. Nhongo não foi expulso dentro do partido. Ele abandonou a base onde estava por livre e espontânea vontade. Fez várias acusações mas essas são inúteis. Se recordarmos, logo que ele abandonou a base, terá dito que eu havia morto”Josefa” [Josefa Isaías de Sousa, militar da RENAMO] Mas nós criamos condições para que o Josefa pudesse aparecer e depois todos viram, acompanharam, o mesmo foi preso. Mais tarde, Nhongo disse que eu não tinha guarda-costas, porque já tinha sido retirado. Em outra ocasião, quando entrevistou-me, eu havia dito que estava satisfeito e livre com os meus guarda-costas. Ele também apareceu afirmou que o “Ossufo era um traidor e que não tinha por que votar no Ossufo” – isso foi no dia 14 de outubro de 2019. E também disse que eu “estava a vender votos”. Ou seja, há contradições no que o senhor Nhongo aparece a dizer: hoje ele diz uma coisa, amanhã outra. Eu não posso seguir alguém que mantém um comportamento assim. Pergunto: alguma vez acompanhou Nhongo atacar um alvo militar? Em nenhum momento. Os alvos dele são civis – autocarros, camiões. Isso significa criar problemas para a população moçambicana. E já tentamos todas as maneiras mas nunca tivemos solução razoável. Não estamos contra o Nhongo e não o expulsamos [do partido]. Ele saiu. Abandonou a base por livre e espontânea vontade. Por isso, dizíamos que ele era desertor. Não temos outro nome para [designar] um militar que sai de uma base. É um desertor, apesar das opiniões de que ele não o seja. Mas, peguemos um dicionário de língua portuguesa: aquele que sai ilegalmente, ou seja, que abandona a base, é um desertor. Eu não tenho outra forma para chamá-lo. Já esquecemos dessa parte. Então, gostaríamos que ele voltasse à razão.