A consultora Eurasia considera que os ataques armados da Junta Militar no centro do país deverá aumentar a curto prazo, mas o líder deste movimento deverá acabar em tribunal, marcando o fim do conflito.
Num comentário da consultora Eurasia aos últimos acontecimentos políticos nos países da África Austral lê-se o seguinte: “Os combates no centro de Moçambique entre as Forças de Segurança do Governo e a autoproclamada Junta Militar da RENAMO, grupo dissidente deste partido da oposição, deverão intensificar-se a curto prazo devido à oposição persistente ao processo de paz”.
Apesar de os analistas anteciparem a continuação dos combates, afirmam também que “o actual julgamento de seis membros da Junta Militar em Sofala, acusados de conspiração contra a segurança do Estado, deverá resultar numa condenação, incentivando outros membros do grupo a deporem as armas”.
E acrescentam: “Mariano Nhongo e outros líderes da Junta Militar deverão acabar em tribunal, o que deverá colocar um ponto final no conflito”.
Os “traidores”
Para os analistas da Eurasia, Mariano Nhongo começou por elogiar os termos do acordo de paz, salientando a vertente financeira do processo, mas “parece agora que já não acredita no regresso dos membros que depuseram as armas, referindo-se aos que participam no processo como traidores”.
A imagem pública deste grupo “deteriorou-se gradualmente com a violência e a participação no processo de paz tornou-se mais apelativa”, dizem os analistas, concluindo que “a Junta vai enfraquecer-se ainda mais à medida que as pessoas escolhem participar no processo de paz”.
Logo após a assinatura do acordo de paz, em Agosto de 2019, a autoproclamada Junta Militar da RENAMO, segundo as autoridades, iniciou ataques armados a alvos civis e das Forças de Defesa e Segurança (FDS) em alguns distritos e troços de estrada da região centro do país, incursões que já causaram a morte de, pelo menos, 24 pessoas desde Agosto do último ano.
Reivindicações da Junta Militar
O grupo de dissidentes exige a demissão do actual presidente da REANMO, Ossufo Momade, acusando-o de ter desviado as negociações de paz dos ideais do seu antecessor, Afonso Dhlakama, líder histórico do partido que morreu em maio de 2018.
Oficialmente, a RENAMO demarca-se da acção do grupo dissidente, classificando-o como desertor e reafirmando o seu compromisso com a paz e a reconciliação de Moçambique.
Os dissidentes, chefiados por Mariano Nhongo, um antigo dirigente de guerrilha da RENAMO, rejeitam o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional, exigem o afastamento do líder do partido e apenas aceitam discutir as suas reivindicações com o Presidente da República, Filipe Nyusi.
Antecedentes
Ao abrigo do acordo, mais de 500 antigos guerrilheiros da RENAMO – da meta de pouco mais de 5.000 – já foram desmobilizados no âmbito do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR).
O entendimento é o terceiro entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a RENAMO, desde a assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP) em 1992, que pôs termo a 16 anos de guerra civil.
Os dois acordos resultaram de confrontos entre as forças governamentais e a guerrilha da RENAMO na sequência da contestação dos resultados eleitorais pelo principal partido da oposição.