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Sábado, Novembro 23, 2024

“O MPLA e o Governo têm de ser mais ousados no reconhecimento do serviço da imprensa privada”, Albino Carlos

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FONTE:NJ

Albino Carlos é o actual secretário para a Informação do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder há 45 anos e que suporta o Governo angolano. Na longa e exclusiva conversa que se segue, o porta-voz dos “camaradas” aborda a actual realidade do partido e a sua visão de país perseguido pela liderança de João Lourenço.

Com o surgimento da nova liderança, como caracterizar o actual MPLA?

Hoje, o MPLA é um amplo movimento de reflexão política, de debate político e análise da situação política e económica do país, em particular, e do mundo, em geral. É um partido que se mostra aberto a todas as sensibilidades que a sociedade angolana tem e quer continuar a ser o fiel intérprete da expectativa do povo angolano.

O processo de transição foi pacífico, mesmo diante das trocas de acusações?

Ao contrário do que se diz, o MPLA está a viver a sua melhor fase. Constata-se mais abertura e rejuvenescimento não só do ponto de vista geracional, mas também de ideias. Com esta transição, está, indiscutivelmente, a demonstrar que é o partido que mais está preparado para interpretar as transformações que o país vem vivendo. Regista-se no MPLA fervor participativo e espírito crítico. Todos os dias, as nossas estruturas recebem milhares de pedidos de filiação, vindos, sobretudo, de jovens.

E como tem sido gerido este processo de rejuvenescimento diante de um sector mais conservador do partido?

A questão do rejuvenescimento não se restringe aos aspectos geracionais. Há jovens mais conservadores do que os mais-velhos e há mais-velhos com pensamentos progressistas. O rejuvenescimento do partido é um processo de aperfeiçoamento político-ideológico que se vai consolidando todos os dias nas estruturas do partido. A democratização sempre foi uma garantia estatutária, mas consolida-se cada vez mais. Só um partido com ampla vocação pluralista e que pugna pela democracia poderia liderar um processo de instauração do multipartidarismo e democracia em 1991.

Ao chegar ao poder, o actual Presidente desmistificou uma tese que prevaleceu durante muitos anos no seio dos “camaradas”, segundo a qual Agostinho Neto era o primeiro presidente do partido. É ou não um sinal claro de que o partido precisa de se reencontrar com a sua história?

No mês passado, fizemos um seminário internacional, em que tivemos a oportunidade de analisar o percurso histórico do partido, tendo concluído que se confunde com o progresso que o país tem registado. É um partido que tem uma grande intervenção na transformação do país, tem sabido aglutinar todos os movimentos do nacionalismo e soube ultrapassar todos os momentos bons e maus.

O MPLA está a tirar o dividendo dos melhores quadros de todas as sensibilidades do país e a tirar os melhores rendimentos de uma sociedade mais aberta e arejada. O crivo da imprensa é maior, e o amadurecimento da sociedade tem exigido dos militantes do partido maior rigor.

Insisto: o MPLA não considera este um motivo para repensar a sua história?

O que está a dizer não é o que se passa na realidade.

O que é que se passa de concreto?

A opinião do partido é aquela que traduz a declaração do seu presidente. Os líderes do MPLA são cinco: Ilídio Machado, Mário Pinto, Agostinho Neto, José Eduardo dos Santos e João Lourenço. Este é o facto, mas o debate político não vai por ali. Isto é um não-assunto. O que tem envolvido os militantes e os seus dirigentes é o MPLA abrir-se mais, estar sensível a todas as sensibilidades e reforçar o processo de democracia interna, para que o partido continue a ser um movimento dinâmico, revolucionário e progressista.

Há quem diga que o partido esteja a viver o pior momento da sua história, marcado por alas internas, com rotura com o passado?

Não existem lourencistas nem eduardistas, apenas na cabeça de algumas poucas pessoas. Existe apenas o MPLA, que, no seu seio, é um partido de massa, aberto para todas as sensibilidades e que conta com uma massa intelectual muito forte, uma massa crítica muito forte, na qual todas as opiniões encontram respaldo.

O objectivo do MPLA é melhorar as condições de vida dos cidadãos. Dois anos depois da actual liderança do país, os níveis de pobreza e de desemprego continuam altos e preocupantes…

Todos temos que ter em conta os condicionalismos que estamos a viver. A crise sanitária e mundial afectou as economias frágeis como a nossa, que depende de um produto, que é o petróleo. Estamos a atravessar uma crise mundial, e não só de Angola. Do nosso ponto de vista, acrescentou problemas: o preço do petróleo baixou drasticamente, e a dinâmica da economia está como está. E isso veio aumentar os níveis de pobreza e de sobrevivência da nossa sociedade.

Como justificar um velho problema a um contexto recente?

De facto, já havia pobreza, meu caro amigo. Quem está atento sabe a forma como o mundo está e as consequências económico-sociais e psicológicas que estamos a atravessar. Economias como as nossas são as mais penalizadas.

Estamos à procura de soluções económicas, do ponto de vista de ajuda, gestão e solidariedade, para atenuar o impacto desta crise que estamos a atravessar. Temos um pacote de medidas económicas, no sentido de dinamizar as empresas, de apoiar os empresários e as famílias mais carenciadas; temos o programa de apoio às famílias, o «Kwenda», não no sentido existencialista, mas no sentido de alavancar estas populações mais penalizadas, quer pela crise anterior, quer pela crise concreta que estamos a atravessar. No âmbito do reforço no combate à fome e à pobreza, temos ainda a afectação directa de 420 milhões de dólares norte-americanos para mais de três milhões de cidadãos em estado de carência extrema.

Como avalia a forma como tem sido tratado, no seio dos “camaradas”, o antigo Presidente José Eduardo dos Santos?

O antigo Presidente, José Eduardo dos Santos, tem sido tratado de forma normal dentro dos marcos institucionais estabelecidos. É uma relação normal. A força do MPLA reside nos activos do seu passado, do presente e, sobretudo, no capital que representa o futuro, que é expresso pela massa juvenil e pela abertura que o partido tem feito. O MPLA continua fiel ao seu percurso histórico. Não temos dificuldades de olhar para o retrovisor, porque o legado dos seus líderes ou dos seus dirigentes é a energia que faz que a força actual se mantenha confiante para resolver o compromisso histórico que o partido tem com o povo angolano, que é resolver os problemas do povo.

Falou em maior abertura. O Presidente Emérito tem sido consultado?

A relação entre o MPLA e o antigo Presidente, José Eduardo dos Santos, é normal e institucional. Temos feito do legado dos activos dos antigos dirigentes a força mobilizadora para vencer os desafios do presente e do futuro. Não há nenhum problema.

O combate à corrupção está no seu segundo ano. Que avaliação faz?

A avaliação que faço ao combate à corrupção é extremamente positiva e não é só uma luta do MPLA. Neste momento, representa um combate de toda a sociedade angolana e de todas as forças vivas da Nação angolana. Representa, também, crédito perante a comunidade internacional. Significa, também, que este combate depende do futuro do país. É neste sentido que vamos continuar a apoiar os esforços do Executivo, tendo sempre em atenção os superiores interesses do povo angolano. O MPLA iniciou este combate à corrupção como regra universal em que todos os cidadãos fossem vistos de igual forma perante a lei. Aliás, nos seus vários discursos, o actual Presidente fez questão de sublinhar que o combate não visa este ou aquele. O facto de muitos dos seus militantes se verem envolvidos não acarreta problema nenhum.

Como interpreta as vozes da sociedade civil e da oposição que apontam para determinada selectividade?

Não existe selectividade no combate à corrupção. Basta ver os casos nos órgãos de justiça que provam que ninguém está acima da lei. Penso que esta ligação são campanhas dissuasoras e de intoxicação, para desviar a atenção dos órgãos de justiça dos seus reais objectivos.

Estas campanhas visam, igualmente, dividir o partido. Mas estão enganados, porque o MPLA é um partido unido, coeso e que está a ser liderado por uma pessoa com princípios assentes na justiça, tendo em conta os interesses do povo angolano. Por isso, consideramos que estas acusações de selectividade no combate à corrupção visam apenas desacreditar as transformações políticas, económicas e sociais que têm sido dinamizadas.

O combate à corrupção tem por objectivo fazer uma Angola para todos os angolanos e não de uma minoria, que desviou os bens públicos.

Esclareça-nos a polémica à volta de suposto debate interno da revisão da Constituição para alargar os mandatos de João Lourenço. É verdade?

Não gosto de comentar supostos debates. Não temos, na nossa agenda política, a revisão da Constituição. O MPLA é um partido que não se deixa levar pelas ondas das redes sociais e do «disse-que-disse». A revisão da Constituição não faz parte da nossa agenda política. As nossas prioridades são outras, com destaque para a reforma do Estado, para que ele se sinta mais próximo dos cidadãos e seja instrumento das ideias deles.

O nosso desafio é preparar os nossos militantes, dinamizando as estruturas intermédias, capitalizar os nossos cabos eleitorais para vencermos as eleições autárquicas. Estamos a trabalhar no Parlamento para este instrumento legal, o pacote legislativo autárquico, seja aprovado. Queremos procurar consenso. Estamos a trabalhar, para que a nossa coesão seja motivo para a nossa vitória. Estas são as grandes preocupações que temos.

Acredita na recandidatura de João Lourenço?

No momento certo, o Presidente vai-se pronunciar. A Constituição assegura que cada cidadão pode exercer até dois mandatos como Presidente da República. João Lourenço está apenas a meio do seu primeiro.

As autarquias acontecem mesmo este ano?

Não sei.

A oposição fala de falta de vontade política…

O que tenho a dizer é que estamos a preparar a nossa máquina, estamos a dar os últimos retoques, para vencer as eleições autárquicas. O facto de estarmos a viver a pandemia do novo coronavírus limitou a nossa actuação política, mas aguçou a nossa criatividade. Estamos mais próximos da sociedade, auscultando os seus problemas.

Pode-se dizer que, de forma oficiosa, o MPLA já começou com a campanha?

A campanha não, por ser um instrumento jurídico que tem o seu timing. Estamos apenas a preparar a nossa máquina para vencer as eleições autárquicas.

Se as eleições fossem hoje, o MPLA teria votos da juventude diante deste cenário de desemprego e fome?

Não tenho dúvidas de que os jovens iriam renovar o seu voto de confiança….

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