Assegurar o acesso a água e sabão, trabalhar com os médicos tradicionais, informar em línguas nativas: a Organização Pan-americana da Saúde (OPAS) publicou nesta segunda-feira (8) recomendações para militar o impacto da COVID-19 entre indígenas, afrodescendentes e outros grupos étnicos especialmente afetados pela pandemia.
“É importante levar em conta que o racismo estrutural e a discriminação histórica dos quais estas populações têm sido e continuam sendo objeto geram uma situação de vulnerabilidade aos efeitos da pandemia com relação à população em geral”, destacou a OPAS, escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O guia destacou que estes grupos enfrentam níveis mais elevados de pobreza e menores de escolarização, assim como falta de acesso à água potável e ao saneamento, bem como barreiras culturais, inclusive linguísticas.
Mas outros fatores aumentam o risco destas populações contraírem a COVID-19, segundo a OPAS: maior prevalência de doenças crônicas, menor acesso a redes de segurança social, preceitos culturais opostos ao distanciamento social e altos índices de trabalho informal.
Estas variáveis são levadas em conta no guia de 15 páginas da OPAS, dirigida a líderes comunitários, pessoal de saúde e governos, e aconselha sobretudo tornar estes grupos partícipes de qualquer decisão que afete a sua saúde.
A OPAS recomenda incluir o conceito de etnicidade nos registros de saúde, levar em conta a cultura para elaborar campanhas de saúde pública, tomar medidas adaptadas às necessidades dos diferentes grupos étnicos, e considerar as tradições e os costumes para a manipulação de cadáveres no contexto da COVID-19.
As orientações pedem para que se assegure “que todos os membros do lar saibam o que fazer se alguém da família adoece com COVID-19 e o apoio específico que devem oferecer”. No entanto, esclarecem que o conceito de “lar” difere do Ocidental por incluir a família estendida.
No guia, a OPAS destaca em particular os desafios enfrentados pelos povos indígenas da bacia amazônica – que abrange territórios de oito países (Brasil, Peru, Colômbia, Bolívia, Equador, Venezuela, Guiana e Suriname), onde, segundo disse, vivem 826 comunidades, das quais 200 estão em isolamento voluntário.
A OPAS informou que os mais de 2.400 territórios indígenas nesta região não só sofrem de tuberculose, malária, sarampo e febre amarela, mas também de falta d’água e saneamento, e da insegurança alimentar, que afeta 85% da população.
“Se a estes aspectos adicionamos outros fatores determinantes intermediários, como falta de acesso a serviços de saúde, as comunicações e o transporte, a vulnerabilidade ao SARS-CoV-2 aumenta ainda mais”, advertiu a OPAS.
Na quinta-feira, entidades de direitos humanos da ONU e da OEA alertaram que os indígenas da Amazônia estão “em grave risco” pela pandemia e exigiram dos países da região a tomar maiores medidas de proteção.