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Sábado, Novembro 23, 2024

Geórgia persegue o caminho da Europa

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Nesta edição de “Global Conversation”, Anelise Borges conversa com Salomé Zurabishvili, a Presidente Geórgia. A situação nos territórios separatistas da Ossétia do Sul e da Abecásia e as relações do país com a União Europeia foram dois dos principais temas que marcaram a conversa.

Euronews – Este fim-de-semana, realizaram-se eleições presidenciais numa nação que apenas 7 outros países reconhecem. A votação na Abecásia foi considerada uma farsa e uma violação da soberania nacional da Geórgia pela minha convidada.

Presidente Salomé Zourabichvili, muito obrigada por estar connosco na Euronews. A Abecásia é um tema controverso no seu país. Uma região separatista.

Salomé Zourabichvili – Não é uma perspetiva. É um território ocupado.

Euronews – É reconhecido internacionalmente como parte da Geórgia mas há certos países, como a Venezuela, Nicarágua, mas também a Síria e, claro, a Rússia, que a vêem como um estado independente. Esta é, evidentemente, uma questão – esta região e a Ossétia do Sul – são questões centrais nas vossas relações com um vizinho muito poderoso – a Rússia. Já passaram mais de 10 anos desde a guerra entre os dois países – uma guerra breve mas dispendiosa. Pode falar-nos sobre estas eleições e na forma como lida com estas duas regiões?

Salomé Zourabichvili – Esta suposta eleição, já que não reconhecemos as eleições que acontecem hoje nestas condições. Mas estou convencida de que, muito em breve, haverá eleições em todo o território da Geórgia, nas quais os cidadãos – os nossos cidadãos que vivem na Abecásia – poderão participar de uma forma muito mais livre, para determinarem o futuro da sua região dentro da Geórgia.

Euronews – Uma vez falou em tragédia – em tragédia nacional, ter de lidar com estas duas regiões separatistas.

Salomé Zourabichvili – É isto que me parece muito interessante e que deve ser sublinhado: é uma tragédia humana para as pessoas que ali vivem. Porque não lhes é permitido ter acesso à sua língua, a sua identidade está realmente ameaçada porque existe uma política de “russificação”. É uma situação muito difícil também para as pessoas que vivem na região. Há casos de rapto, é uma situação muito tensa. Mas, ao mesmo tempo, e é isso que é importante, a Geórgia conseguiu continuar o seu caminho em direção à Europa, o seu desenvolvimento económico, o seu desenvolvimento democrático. E penso que se o objetivo – e penso que foi esse o objetivo desta guerra e depois da ocupação – é impedir a Geórgia de avançar na direção que escolheu, a direção ocidental, então fomos nós que vencemos.

Euronews – Quero falar sobre a Europa, mas quero perguntar-lhe primeiro até que ponto é complicado liderar um país relativamente pequeno quando tem um vizinho com ambições tão grandes. E se já conheceu o Presidente russo, Vladimir Putin? Está em contacto com eles?

Salomé Zourabichvili – Como sabem, não temos relações diplomáticas desde a guerra por causa da guerra e dos territórios ocupados. Já disse, muitas vezes, que para termos alguma forma de contacto precisaríamos de ter um sinal claro de que há uma mudança de atitude da Rússia para com o pequeno vizinho que somos e o reconhecimento de que a relação com um vizinho não pode acontecer de uma forma agressiva. Portanto, quando virmos sinais claros nesse sentido, estou certa de que estaremos prontos, no futuro, para esse diálogo.

Se neste momento é difícil ser presidente de um país como este? É um país que tem 27 séculos de experiência de resistir a todo o tipo de impérios – a quase todos eles. De ter partes do seu território, em diferentes momentos da história, ocupadas por diferentes impérios. Sobrevivemos a tudo isso e, por isso, estou certa de que vamos sobreviver. Estou certa de que vamos continuar a avançar na direção da Europa e para pertencermos à Europa. E já percorremos um longo caminho.

Um aspeto que para mim é muito importante é que, há 15 anos, ninguém teria previsto, em primeiro lugar, que a Geórgia faria parte da política de vizinhança e, em segundo, que seria um parceiro da União Europeia. Ninguém teria previsto que nos tornaríamos um país associado, que teríamos facilidades em matéria de vistos, um regime de livre comércio – tudo isso. Toda a gente teria dito que era impossível. Mas é possível e é isso que torna a presidência deste país um desafio, mas um desafio muito otimista.

Euronews -Disse que a sua eleição significa que a Geórgia quer avançar para a Europa. A senhora é europeia, nasceu e cresceu aqui em Paris – cerca de 80% da população na Geórgia quer entrar na União Europeia, na era de Brexit. Como explica esta ambição? Aqui, na Europa, debatemos este divórcio muito controverso. Porque é que a Geórgia quer fazer parte do bloco?

Salomé Zourabichvili – Em primeiro lugar, devo dizer e sublinhar que não fui eleita porque colocaram de parte o facto de ter sido francesa, no passado, e de ser europeia. Fui eleita por causa disso. É algo profundamente enraizado na mentalidade georgiana: os georgianos sentem que são europeus – não é algo que ambicionem. Eles são europeus.

Estão muito otimistas porque pensam que a atração pela Europa não tem alternativa – o que é algo que, por vezes, os europeus não compreendem. Mas estou a dizer aos europeus: se quiserem imaginar o que seria se a Europa deixasse de existir e voltássemos ao passado, perceberiam certamente que seria um pesadelo. Portanto, a Europa é uma construção muito importante – uma construção muito bem-sucedida – mesmo que tenha tempos de crise. Penso que um princípio muito interessante é que todos os progressos da Europa foram feitos por causa da crise – mais uma vez, não apesar da crise, mas por causa da crise e em resultado da crise.

O Brexit é, certamente, um grande desafio. Mas acredito que dará lugar a novas oportunidades, a uma nova obrigação da Europa se reformar a si própria. Como sou otimista, estou certa de que abrirá novas portas para nós.

Euronews – É um tema que que observa de perto?

Salomé Zourabichvili – Muito

Euronews – O Brexit e os movimentos na Europa – as crises e também as oportunidades. A Geórgia acompanha a situação? A União Europeia continua a ser um objetivo?

Salomé Zourabichvili – De muito de perto. Temos de continuar o caminho que descrevi até agora e vamos continuar esse caminho para alcançarmos progressos muito claros em direção à Europa e para fazermos parte da Europa. Temos de saber exatamente onde nos colocamos no novo contexto europeu e de ser, ao mesmo tempo, muito realistas e muito ambiciosos.

Euronews – Presidente Salomé Zourabichvili, muito obrigado por falar connosco no Global Conversation, da Euronews.

Salomé Zourabichvili – Obrigada

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