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Sábado, Novembro 23, 2024

Ana Gomes: “Rui Pinto pode ser um delinquente, mas os grandes criminosos estão aí à solta”

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DN | Paula Freitas Ferreira

Eurodeputada não ficou surpreendida com as novas suspeitas que recaem sobre o hacker e diz que este também não estará. “Ele sabe que isto é um combate longo, difícil e duro”.

“Acusar os whistleblowers de actividades criminosas é um clássico”. É assim que Ana Gomes, uma das vozes que se têm levantado para defender Rui Pinto, reage às notícias de que o hacker terá acedido ao correio electrónico de “largas dezenas de ofendidos”, nomeadamente, magistrados do Ministério Público, elementos da Administração Interna, PSP, escritórios de advogados, FIFA, FC Porto, Nacional e Confederação Sul-americana de Futebol.

A notícia, avançada primeiro pela revista Sábado , e hoje pela Lusa, refere ainda que a invasão ilegal desses e-mails por Rui Pinto é o principal argumento que consta do despacho do Ministério Público no pedido que fez ao juiz de instrução criminal para que declare a especial complexidade do processo, o que dará mais seis meses à investigação e, consequentemente, poderá manter em prisão preventiva Rui Pinto (arguido por aceder ilegalmente aos sistemas informáticos do Sporting e da Doyen), pelo menos até 22 de Março de 2020.

“As fontes dessa informação da Sábado só podem ser o Ministério Público ou a Polícia Judiciária. Se eles sabem disso e não têm pejo em expor a fragilidade do Estado português, então agora que tirem todas as consequências de toda a informação que têm”, desafia a eurodeputada.

A ser provado que o hacker cometeu os crimes pelos quais está indiciado, isso não lhe retira o estatuto de denunciante, na opinião de Ana Gomes. “Rui Pinto é um whistleblower evidentemente, mesmo que tenha cometido alguns delitos. É um whistleblower e deve ser posto ao serviço do Estado, isto se o Estado quiser ir atrás da grande criminalidade”, acrescenta a eurodeputada.

Existe “uma actuação selectiva para ir atrás de uns e encobrir outros”
“Eu não sei se Rui Pinto cometeu delitos. É um assunto que a Justiça tem de apreciar. Aquilo que eu sei é que o Rui Pinto é uma pessoa com excepcionais capacidades informáticas que colaborou com a Justiça de vários países. Não entendo como é que a justiça portuguesa não lhe pediu colaboração quando outros [países] o fizeram e por causa disso já recuperaram imenso dinheiro, de fuga ao fisco e branqueamento de capitais”, repete Ana Gomes – esta tem sido a sua batalha desde que se soube da informação recolhida por Rui Pinto e após a sua extradição para Portugal.

“Rui Pinto pode ser um delinquente, mas os grandes criminosos estão aí à solta e não vejo as autoridades a actuarem contra eles”, sublinha a eurodeputada, muito crítica das autoridades portuguesas que acusa de não pedirem a colaboração de Pinto “porque nunca houve uma actuação proactiva, mas sim uma actuação selectiva para ir atrás de uns e encobrir outros”.

Diz que não ficou surpreendida com estas novas suspeitas e garante que Rui Pinto também não estará. “Ele sabe que isto é um combate longo, difícil e duro, ele sabe disso perfeitamente, como eu sei disso e fico exactamente onde estou”, garante a eurodeputada.

Ana Gomes esteve esta semana na Polícia Judiciária, uma visita confirmada ao DN. “Sim, é verdade, fui falar sobre vários casos que tenho acompanhado ligados principalmente a questões de terrorismo, mas também falámos de Rui Pinto, mas não vou dizer nem aquilo que falei nem o que fiz”, afirmou.

“A ser verdade que ele fez isso, então o Estado português é manteiga”
Em Abril, Ana Gomes visitou o hacker português na prisão para lhe entregar em mãos o prémio europeu para denunciantes. Mas conta voltar em breve. “Já pedi para ir visitar Rui Pinto outra vez”, conta.

Ana Gomes chama ainda a atenção para o artigo escrito por Maria José Morgado, publicado no Expresso a 11 de maio, e intitulado “O amigo Hacker”, no qual a procuradora assume que “há uma impreparação das autoridades para prevenir e reprimir uma grave criminalidade global, designadamente no mundo do futebol”.

“Rui Pinto pode ser posto ao serviço das autoridades que não têm capacidades informáticas ou periciais nenhumas e é isso que a procuradora Maria José Morgado explica no artigo que escreveu”, diz.

“A ser verdade que ele fez isso [invadiu os e-mails de magistrados e de elementos da Administração Interna] então o Estado português é manteiga e qualquer puto mais habilidoso pode entrar [nesses e-mails]”, acrescentou a eurodeputada.

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