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Sábado, Novembro 23, 2024

Crise leva estudantes a desistirem do ensino superior

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A crise económica e falta de políticas sociais em Angola fazem com que mais jovens desistam das instituições privadas, dizem estudantes. Entretanto, universidades públicas também devem cobrar propinas nos cursos diurnos.

Cada vez mais estudantes desistem do sonho de uma formação universitária em Angola. O preço das propinas das instituições do ensino superior privadas e a ausência de políticas públicas no apoio aos estudantes são apontados pelos jovens e encarregados de educação como factores que colaboram para o aumento do número de desistências.

Para Tomás Jonas, estudante do 5º ano do curso de Direito, no Instituto Superior Politécnico do Huambo, e coordenador da área jurídica da associação dos estudantes daquela instituição, não há dúvidas: os cerca de 39 mil kwanzas, o equivalente a 102 euros, exigidos como pagamento mensal de propina não estão ao alcance de todos os estudantes angolanos.

“Podemos afirmar que há desistências tendo em conta as condições económicas e financeiras que o país vive e isso afecta directamente os estudantes”, afirma Tomás, que diz que “as pessoas vão abandonando os estudos por dificuldades financeiras”.

O estudante conta que tudo tem feito, enquanto representante dos estudantes na naquela universidade, mas lamenta a falta de sensibilidade da direcção do instituto, que, por seu turno, também apresenta a crise financeira como principal factor do reajuste das propinas.

“Nós temos feito tudo no sentido de se reverem os preços das propinas. Temos tido conversas com a direcção no sentido de se ponderar esta questão, mas a resposta que temos tido é que a direcção também depende da unidade gestora”, acrescentou.

Joaquim Sassole, estudante de Ciências Políticas numa universidade privada da cidade do Huambo, disse à DW África que tem sido um enorme sacrifício cumprir com o compromisso do pagamento mensal das propinas, por causa das dificuldades financeiras.

“Vejo-me sem poder dar prosseguimento à minha formação, porque não é tão fácil assim. Hoje, com a crise que abalou o país, tudo está complicado. As propinas em Angola são altas e no Huambo temos colegas que desistiram por razoes financeiras”, relatou o jovem.

Ensino público vai cobrar propinas

Em 2020, de acordo com o Ministério do Ensino Superior, os estudantes diurnos das universidades públicas de Angola também passarão a pagar à semelhança dos seus colegas nocturnos. Neste momento, está em curso um estudo encomendado por aquele ministério, para se determinar o valor ideal a ser cobrado.

Manuel Luciano, estudante diurno do curso de Ciências da Educação no Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED), diz que caso o Executivo avance para as cobranças também no período diurno, será o fim do seu sonho de continuar a sua formação universitária: “No meu caso, sem emprego, acho que terei que anular o ano lectivo para conseguir fundos que me possibilitem dar continuidade numa fase posterior”.

Para o professor universitário e sociólogo Memória Ecolica, o Estado deve criar políticas de protecção para que as famílias não sejam as maiores vítimas da actual conjuntura económica que o país vive.

Salários baixos

Ecolica afirma que, devido aos baixos salários pagos em Angola e também à desvalorização do poder financeiro, os cidadãos enfrentam o dilema de ter que estabelecer prioridades no processo de formação dos filhos nos diferentes níveis de ensino.

“Os pais, com a desvalorização da moeda, quase não conseguem acudir a todos e têm que estabelecer prioridades entre quem já está na universidade e os que estão a começar a estudar. E como sempre eles preferem parar aqueles que já estão avançados e continuar [os estudos] daqueles que ainda não têm formação”, explica o sociólogo.

Entretanto, o docente não concorda que as propinas cobradas pelas universidades privadas em Angola sejam elevadas. Para Memória Ecolica, 39 mil kwanzas, cerca de 102 euros, é uma propina razoável e está de acordo com o que é pago em outras partes do mundo. O problema, segundo disse, está nos baixos salários praticados no país.

E argumenta: “Não é possível que seja o Estado a dizer que as universidades estão caras, pois, de facto, não estão. O que está difícil é o salário que tanto o Estado como o sector privado pagam aos funcionários que devem suportar os seus filhos”.

A DW África tentou ouvir sobre o tema alguns gestores de instituições de ensino superior públicas e privadas na província do Huambo, mas não obteve respostas.

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