Após grande repercussão da fala do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que defendeu que o Brasil tenha armas nucleares, a Sputnik Brasil conversou com o especialista em Relações Internacionais, Diego Pautasso, sobre a pertinência e tal afirmação para a atual conjuntura da política externa brasileira.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmou na última terça-feira (14) que bombas nucleares garantem a paz e, caso o Brasil possuísse uma, poderia ser levado a sério pela Venezuela ou ser temido por Rússia e China.
O professor de Relações Internacionais do Colégio Militar de Porto Alegre, Diego Pautasso, em entrevista à Sputnik Brasil, disse que a declaração de Eduardo Bolsonaro é, “na melhor das hipóteses, problemática”.
“Nem Irã, nem China, nem Rússia, representam ou representaram em nenhum momento da história contemporânea qualquer ameaça à soberania e integridade territorial ou ao desenvolvimento nacional brasileiro. Ao contrário, tanto a Rússia, como a China, fizeram e fazem parte de agrupamentos importantes dos quais o Brasil faz parte, notadamente o BRICS, a China é o maior parceiro comercial brasileiro, por exemplo, principal investidor na economia nacional e um parceiro em outros projetos bilaterais, tanto China quanto Rússia”, afirmou.
O especialista em Relações Internacionais destacou que a afirmação do deputado federal “é desprovida de lógica conceitual”.
“Efetivamente a capacidade nuclear tende a produzir respeito e capacidade dissuasória no sistema internacional, no entanto, nem o respeito é atributo exclusivamente da capacidade nuclear e militar, e tampouco faz sentido buscar respeito e prestígio a um país que atualmente não tem ambições internacionais”, argumentou, acrescentando que o Brasil hoje tem uma política externa totalmente alinhada aos interesses norte-americanos.
“E, mais do que isso, não tem sido um país que almeja a soberania, a independência e o desenvolvimento nacional”, completou Pautasso.
O especialista também observou que, apesar de ter militares ocupando vários quadros no governo, não foi apresentado nenhum plano de fortalecimento e manutenção dos investimentos delineados na estratégia nacional de Defesa. Somado a isso, foi anunciado no último dia 8 de maio um bloqueio de R$ 5,8 milhões do orçamento do Ministério da Defesa.
Diego Pautasso completou citando a experiência da gestão do ex-chanceler Celso Amorim, que “gozou de um protagonismo e de uma influência importante sem ter uma grande capacidade de projeção de força”.
“Há uma confusão tremenda entre o que gera prestígio e o que gera capacidade formulação e implementação de uma política externa ativa por parte do nosso representante parlamentar”, declarou o especialista.