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Sexta-feira, Outubro 18, 2024

Ciclone Idai: Países desenvolvidos devem “apoio” e “solidariedade” a Moçambique

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Na Costa do Marfim, por ocasião do evento anual da Fundação Mo Ibrahim, Joaquim Chissano, antigo chefe de Estado moçambicano, e Ellen Johnson Sirleaf, ex-Presidente da Libéria, apelaram à ajuda a Moçambique.

O ex-Presidente Joaquim Chissano apelou, este domingo, 07, para que a ajuda a Moçambique continue e pediu solidariedade aos países mais ricos e que mais contribuem para as alterações climáticas. “O apelo para a ajuda continua. A resposta já veio, mas não podemos parar por aqui. O número de mortos é elevado. É possível que se encontrem mais corpos, sem contar com as pessoas que estão a morrer por causa da cólera e da malária”, disse Joaquim Chissano.

O antigo chefe de Estado moçambicano falava à agência Lusa em Abidjan, Costa do Marfim, citado pela DW África, à margem do fim de semana sobre governação da Fundação Mo Ibrahim, que se dedica à promoção da boa governação em África. À semelhança do que aconteceu em anos anteriores, também em 2018 a Fundação não atribuiu o Prémio Mo Ibrahim a nenhuma personalidade.

Alterações climáticas

A destruição provocada pelo ciclone Idai em Moçambique, no Zimbabué e no Malaui relançou o debate sobre as compensações aos países que menos contribuem para as alterações climáticas, mas que são os que mais sofrem com as suas consequências. Questionado sobre o tema, Joaquim Chissano explicou que, na sua opinião, não se trata de “indemnização ou compensação”, mas de solidariedade.”[Gostaria] que os países que podem se solidarizassem com aqueles que menos podem, podendo pôr na equação que aqueles países emitem pouco carbono para o espaço”, sustentou.

“Esses países sabem qual é a sua responsabilidade quando falamos de solidariedade. Não é só neste aspecto, há outros: o atraso no desenvolvimento, o analfabetismo, a escravatura”, acrescentou.

Joaquim Chissano considerou que não faz sentido hoje “exigir a um jovem português que pague pelo que o seu ‘tetratisavô’ fez”, mas defendeu que as “novas gerações devem compreender que tem que haver solidariedade” num mundo global. Por outro lado, reconheceu que a questão das compensações é “uma matéria que tem de ser aprofundada”, considerando que o mercado de troca de créditos de carbono se revelou “um processo muito complicado”.

“Construir em novos lugares”

Para Joaquim Chissano, é hora de repensar os espaços pois nota: “Há áreas para onde não é conveniente que as pessoas voltem. Tem que se encontrar uma alternativa de convencer as pessoas a construir em novos lugares e mais tarde pensar-se nas próprias cidades”, disse o ex-presidente, que acrescentou ainda: “as cidades moçambicanas estão todas mal localizadas, todas abaixo do nível do mar – Maputo, Beira, Quelimane – e são propensas a inundações e, portanto, tem que se pensar nisso tudo”.

Admitindo que é preciso “muito dinheiro”, que “não se pode mudar uma cidade de um dia para o outro” e que, num país “muito pobre”, o projecto de mudança de cidades é uma “prioridade mais afastada”, Joaquim Chissano defendeu que “não se deve deixar de pensar nela”. “Já fizemos isso na bacia do rio Limpopo e realojamos as pessoas em lugares mais seguros. Em Moçambique, temos que continuar a trabalhar para quando surgir um novo fenómeno estarmos preparados”, disse.

Cumprimento do Acordo de Paris

Na mesma ocasião, a economista e Prémio Nobel da Paz Ellen Johnson Sirleaf pediu o cumprimento do Acordo de Paris. “Em Moçambique pudemos ver as alterações climáticas na sua total extensão e a devastação que podem provocar. É preciso lidar com isso e cumprir o acordo assinado em Paris”, disse.

Para a antiga presidente da Libéria, o acordo sobre o clima, assinado em 2015, é “claro” sobre o apoio devido aos países que menos contribuem e que mais sofrem com os efeitos das alterações climáticas. “Assinámos um acordo sobre o clima em Paris, é preciso que todos o implementem e respeitem. Nesse acordo está claro que os países desenvolvidos, que usam os recursos naturais dos países pobres ou em desenvolvimento, lhe devem – não lhe chamaria compensação – mas apoio”, sustentou.

“Moçambique, por razões sobre as quais não tem qualquer controlo, precisa desse apoio. E precisa desse apoio de África, das instituições africanas, da Europa e das instituições financeiras de desenvolvimento porque as populações afectadas não têm responsabilidades” na tragédia, acrescentou.

Mo Ibrahim sem vencedor em 2018

Ellen Johnson Sirleaf e Joaquim Chissano foram dois dos convidados do evento sobre governação organizado todos os anos pela Fundação Mo Ibrahim, no qual é entregue o Prémio Mo Ibrahim, que distingue a boa governação e a liderança nos países africanos.

Este ano, como já aconteceu no passado, o galardão não foi entregue. Algo que para Ellen Johnson Sirleaf, que venceu a edição de 2017 deste Prémio, não é sinónimo de deterioração da governação no continente. “Não houve nenhuma transição pacífica de poder importante e que cumpra os critérios do Prémio. Os mandatos têm sido prolongados e um dos critérios é o cumprimento do mandato e a passagem pacífica do poder”, disse.

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