Representantes dos Serviços de Veterinária de Angola e do Ministério do Comércio não quiseram comentar notícias divulgadas na imprensa internacional na semana passada a interdição, pela União Europeia (UE), da importação de frango congelado das marcas Sadia e Perdigão, produtos que também são de amplo consumo no mercado angolano.
A responsável do Serviço de Veterinária de Angola Bernardete Santana afirmou, contactada pelo Jornal de Angola, desconhecer oficialmente a informação, o mesmo que o inspector geral do Comércio, Francisco Félix, preferindo ambos o silêncio em relação à decisão da União Europeia e às eventuais medidas a adoptar pelas autoridades angolanas.
A União Europeia proibiu quarta-feira a importação de carne de frango de 20 frigoríficos brasileiros – 12 dos quais da companhia brasileira BRF -, o que se segue a uma decisão tomada pela Comissão Europeia em Abril, depois da terceira etapa da “Operação Carne Fraca”, deflagrada em Março do ano passado pela Polícia Federal do país sul-americano para investigar denúncias de fraudes cometidas por empresários e fiscais agro-pecuários.
A “Operação Trapaça” – terceira fase da “Carne Fraca” – teve como alvo a BRF, detentora das marcas Sadia e Perdigão. O grupo é investigado por defraudar resultados de análises laboratoriais relacionados à contaminação pela bactéria Salmonella pullorum, encontrada em aves de capoeira.
“As informações recebidas das autoridades competentes brasileiras e os resultados dos controlos oficiais nas fronteiras da União Europeia não permitiram demonstrar que foram tomadas as medidas correctivas necessárias para corrigir as deficiências identificadas. Por conseguinte, não existem garantias suficientes de que esses estabelecimentos cumprem actualmente os requisitos da União e os seus produtos podem constituir um risco para a saúde pública”, informa o documento publicado no “Jornal Oficial” da UE.
Segundo o jornal, os produtos podem constituir um risco para a saúde pública e é conveniente retirá-los da lista dos estabelecimentos a partir dos quais são autorizadas importações de carne e produtos à base de carne na UE.
De acordo com o documento, investigações e medidas adoptadas recentemente no Brasil indicam não haver garantias suficientes de que os estabelecimentos citados cumprem os requisitos aplicáveis da União. Os matadouros da BRF proibidos de exportar para a UE são a Ponta Grossa, Concórdia, Dourados, Serafina Corrêa, Chapecó, Capinzal, Rio Verde, Marau, Várzea Grande e Toledo. As outras duas são unidades da SHB Comércio e Indústria de Alimentos, também elas activos da BRF.
Em contracorrente
Dados de Agosto do ano passado indicam que Angola é, ao lado dos Emirados Árabes Unidos, Egipto, Japão, México e Kuwait, um dos mercados que mais contribuem para o crescimento das exportações brasileiras de carne de frango.
O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, afirmou à imprensa, naquela altura, que Angola foi um dos países em que a crise causada pela operação contra frigoríficos no Brasil acabou por ter um efeito contrário junto dos importadores.
“Se antes Angola demonstrava reservas em relação à carne brasileira, hoje transformou-se num dos maiores compradores dos nossos produtos. Angola deu conta de que não havia, como não há, nenhum problema com a carne brasileira e que nós tratamos com a maior seriedade. Então, Angola voltou a comprar a carne brasileira e voltou com muito mais força”, destacou Francisco Turra em Agosto do ano passado.
De acordo com o Ministério da Agricultura do Brasil, no ano passado, o país sul-americano exportou 201 mil toneladas de frango, mas o pico das vendas ao estrangeiro foi 2007, com 417 mil toneladas. Em valores, no ano passado, foram exportados 765 milhões de dólares em frango.
A ABPA indica que o embargo da União Europeia ao frango brasileiro vai gerar, este ano, perda de 30 por cento sobre o total do produto exportado pelo Brasil para 28 países.
De acordo com a ABPA, o Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo. Ao longo de quatro décadas, o país embarcou mais de 60 milhões de toneladas de carne de frango, em mais de 2,4 milhões de contentores para 203 países. (Jornal de Angola)