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Quinta-feira, Novembro 28, 2024

Lubango assinala 94 anos com os olhos no amanhã

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Lubango, capital da província da Huíla, completa hoje 94 anos desde que ascendeu à categoria de cidade, em 1923.

Foi no último dia do mês de Maio daquele longínquo ano que o comboio do Caminho-de-Ferro de Moçâmedes apitou pela primeira vez no planalto da Huíla, proveniente do Namibe, data em que Lubango se torna cidade.

Ao longo dos últimos anos, a urbe cresceu, muito embora necessite de mais realizações, para que conquiste o lugar que lhe é reservado no grande clube das cidades angolanas.

Lubango cresceu em termos de densidade populacional, mas evoluiu pouco. Os munícipes ganharam nos últimos 15 anos muitos equipamentos sociais, sobretudo habitações.

Em 2005, foram construídas 600 casas, no bairro da Mitcha, o primeiro projecto social que concretizou o “Sonho da Casa Própria” a alguns munícipes.

Em 2008, o bairro da Juventude, com 200 habitações, e, mais recentemente, em 2012, as centralidades da Eywa, com mais de três mil habitações, e da Quilemba, com oito mil. O grande problema assenta no acesso as mesmas.

São vários os desejos que o grande público quer ver concretizado, a curto prazo. Entre eles, figura a necessidade de se “apertar” a fiscalização do trabalho dos moto-taxistas e taxistas, criando paragens apropriadas para carregar e descarregar passageiros.

Constam, ainda, a reconstrução dos passeios para se evitar que os peões optem pela estrada para caminhar, a restauração dos jardins e a reposição da sua cintura verde, no nobre bairro da Senhora do Monte, e a renovação do asfalto.

Mas, nem tudo está mal. A urbe beneficia, desde 2016, do Programa de Desenvolvimento Integrado do Sector das Águas (PDISA), lançado em Março daquele ano, cuja primeira fase permitiu a construção de uma linha de 80 quilómetros, para 4.600 ligações domiciliares e termina em Junho deste ano.

O PDISA II, lançado em Março deste ano, será concluído em Junho de 2019, e vai substituir 140 quilómetros de condutas velhas e permitir a concretização de 20 mil novas ligações domiciliares.

Quanto à energia eléctrica, as perspectivas são animadoras. Há um programa para construção de mais três subestações (actualmente tem duas), com vista a fazer chegar a electricidade a mais pessoas. A primeira pela empresa RNT, através de uma linha de Laúca, a segunda a gás, pela Prodel, e outra da ENDE, para 12.600 novas ligações.

Pelo menos 180 quilómetros de estrada devem ser reabilitados. Outros 500 devem aparecer pela primeira vez, e aí se destaca a nova Circular do Lubango, com 58 quilómetros.

Um dos notáveis ganhos da administração do Estado, neste município, é sem dúvida o combate às construções anárquicas.

O programa de auto-construção-dirigida entregou mais de 20 mil lotes de terra de mil metros quadrados nos últimos oito anos.

Na saúde, o município está bem servido. Conta com uma rede sanitária com mais de 100 unidades, onde o realce vai para o Hospital Geral Agostinho Neto, com 520 camas, uma central de referência que assume agora o papel de Hospital Universitário.

Na educação, o Lubango assumiu, desde 2007 o signo de “Cidade do Conhecimento”, denominação que caiu como uma luva, pois, para além do clima favorável, conta com uma rede escolar, do ensino de base ao superior, constituída por mais de cinco mil instituições, capazes de responder às necessidades actuais.

O Lubango foi uma das primeiras cidades do interior a possuir ensino de segundo grau (liceu), não só o Liceu Nacional Diogo Cão, mas também a Escola Industrial e Comercial Artur de Paiva e o Instituto Agrícola do Tchivinguiro.

A chamada Sá da Bandeira, até 1975, acolhe a sede da Universidade Mandume Ya Ndemufayo, que, com outras cinco privadas, perfazem uma rede de seis instituições de ensino superior, onde estudam perto de 15 mil alunos.

Nem tudo são rosas

A “Cidade do Conhecimento”, nome adoptado há 10 anos, ou “Jardim de Angola”, como conhecida dos anos 70 a 90, está literalmente velha, mas ainda se gaba dos seus encantos naturais, turísticos e arquitectónicos.

Pena é que, aos poucos, esses encantos sejam ofuscados pelo desgaste da imagem real, onde a estrutura urbana, com maior visibilidade das ruas e alguns edifícios, dá mostras de uma fotografia de cortar o coração.

A antiga Sá da Bandeira enfrenta muitos problemas, a começar pela mobilidade urbana, dificultada pela degradação das vias estruturantes, em quase todos cantos.

A última vez que viu o seu tapete asfáltico a ser reposto, por completo, foi no princípio da década de 80, aproveitando as sobras do alcatrão usado para a construção da Base Aérea Militar local, por uma empresa jugoslava.

De lá para cá, apenas remendos que se revelam incapazes de suportar o actual parque automóvel.

Com uma superfície territorial de três mil 140 quilómetros, o município foi concebido para 50 mil habitantes.

Passados 94 anos, alberga hoje 766.249 habitantes, de acordo com Censo2014, números que por si só ajudam a compreender as razões do seu “status quo”.

A necessidade de se renovarem as redes dos principais serviços básicos e levar a água, a electricidade e as comunicações aos residentes, obriga os munícipes a assistir há oito anos a escavações constantes no casco urbano, e não só, que, nalguns casos, num processo em que tarda a reposição do asfalto retirado.

O saneamento básico é outra “maka”. Nunca, na sua história, a velha Sá da Bandeira viu acumular tantos resíduos sólidos e acumulados de águas, sobretudo na estação chuvosa, devido à obstrução da rede de drenagem.

A recolha do lixo é deficiente e deixa os habitantes enervados, mas a administração aponta o dedo aos cidadãos que “deliberadamente destruíram os contentores de lixo feitos de plástico, com fogo ateado”.

Há 10 anos, a administração trouxe para si um novo conceito de limpeza. Contratou empresas privadas para assumir a responsabilidade.

O facto gerou expectativas, “mas a montanha pariu rato”, pois essas empresas, que consomem do Estado 120 milhões de Kwanzas/mês, acabaram por decepcionar.

Os focos de lixo cresceram mais do que no tempo em que a limpeza estava atribuída aos Serviços Comunitários da Administração Municipal.

As suas infra-estruturas coloniais precisam de ser reabilitadas, pois apresentam um conjunto de fissuras que colocam em risco a integridade física dos seus utentes.

Desde 2004 que dispõem de um Plano Director Urbano, sendo o primeiro município do país a concebê-lo, mas a execução física ficou pelo desejo.

O seu administrador, Francisco Barros, um jovem político de craveira, considera o plano um instrumento técnico que existe, mas que carece de base financeira forte que não depende da administração local, tampouco do governo provincial, mas que alguns elementos do mesmo vão sendo timidamente executados.

Agora resta buscar um conceito que acompanhe essa evolução da cidade, tentando solucionar os problemas mais urgentes à medida das disponibilidades.

Espera-se que as receitas comunitárias fiquem nos municípios, para se resolverem problemas pontuais, pois os cinco milhões de dólares, equivalentes em Kwanzas, que recebe anualmente não chegam.

Uma urbe acolhedora

A localização geográfica, sudoeste do país, limitado pelos paralelos 13 graus e 15 minutos e 16 graus e 30 minutos a Sul, assim como pelos meridianos 13 graus e 30 minutos e 16 graus a Leste, torna Lubango num dos pontos de confluência de todos que desejam cruzar Angola.

O Monumento de Cristo Rei, as Fendas da Tundavala, as Águas Cristalinas da Cascata da Huíla, a Serra da Leba (esta última embora pertencente ao município da Humpata, o seu sucesso é feito a partir do Lubango), são, sem sombra de dúvidas, os cartões-de-visita desta cidade localizada a 2.400 metros de altitude.

Pólo de desenvolvimento da província da Huíla por excelência, Lubango é limitado a Norte pelos municípios de Quilengues e Cacula, a Leste por Quipungo, a sul pela Chibia e a oeste pela Humpata e Bibala (Namibe).

O seu clima é tropical de altitude, a temperatura média anual ronda aos 20 graus centígrados, sendo Julho o mês mais frio e Novembro o mais quente.

A média pluviométrica anual é superior a 1000 milímetros, o que faz com que a vegetação predominante seja baseada em árvores carnudas que surgem no meio de ervas rasteiras, próprias de regiões de transição para o deserto.

A etnia predominante é o subgrupo étnico Ovamuila, do grupo Nhaneka-Humby, que vive disperso em pequenas aldeias.

O primeiro contacto europeu com pessoas da região data de 1627. Embora a soberania portuguesa tenha começado apenas em 1769, mas foram os holandeses que deram os primeiros sinais de povoamento europeu, por volta de 1880.

Os portugueses da Madeira fundaram, em Janeiro de 1885, a colónia de Sá da Bandeira, que a 31 de Maio de 1923 atingia a categoria de cidade, depois do comboio ter escalado a urbe, vindo do Namibe.

Segundo dados, a ex-Sá da Bandeira foi elevada à categoria de cidade a 31 de Maio de 1923, por proclamação, na residência do Governo Geral, na Humpata, do então alto-comissário da República, General Norton de Matos, uma homenagem a Marques de Sá da Bandeira.

A zona dos Barracões, hoje com nova imagem, constitui o “berço da cidade”, pois foi naquele local onde se construíram as primeiras cubatas, cujo formato era semelhante a barracões.

Mais de duzentos madeirenses constituíram o primeiro grupo a instalar-se naquela paragem, fazendo jus à política de colonização. O propósito fundamental era instalar uma colónia, alem da já existente, no planalto da Chela.

Entre as colónias agrícolas mais antigas, destacava-se a Alba Nova (1769), actual comuna da Huíla, da Humpata (1882). Consta que estas colónias foram as primeiras tentativas de portugueses fixarem-se por estas áreas, com terras bastantes férteis. (Angop)

por Morais Silva

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