Empossado há pouco menos de um mês, como presidente da Comissão Executiva (PCE) do Standard Bank Angola, António Coutinho concedeu, em exclusivo, ao Semanário Económico, a sua primeira entrevista no país.
O novo presidente pretende colocar a instituição financeira no “top cinco” dos bancos em Angola, para isso terá o desafio de inverter a posição do banco no mercado. Actualmente, o SBA figura na décima primeira posição em activos, com 2,2% e é o oitavo banco que mais capta depósitos com cerca de 2,9% da quota de mercado. António Coutinho, que até então era o administrador delegado do Standard Bank Moçambique, veio a Angola no âmbito da rotatividade de quadros no grupo sul-africano.
Ao longo da conversa o gestor bancário falou, entre outros assuntos, da sua estratégia de actuação para o presente ano económico, da entrada do banco na bolsa, sobre o desempenho da banca angolana e apresentou a sua tese sobre a actual crise no sector petrolífero.
Iniciou, recentemente, a função de presidente da Comissão Executiva do Standard Bank Angola. Que expectativas tem em relação ao mercado financeiro angolano?
É um mercado que vai crescer. Sei que actualmente as pessoas estão preocupadas, mas toda economia funciona em círculos. Angola tem muita potencialidade e, embora possa não ocorrer agora, é um mercado que vai crescer nos próximos anos.
Tivemos conhecimento de que manteve um encontro, com o governador do Banco Nacional de Angola (BNA). Foi apenas uma reunião de boas vindas ou serviu para discussão de algum assunto, em especial?
Foi no geral um encontro de simpatia e isso demonstra respeito do nosso lado. Falámos sobre vários assuntos. O Standard Bank está preparado para ajudar, no que for preciso, o BNA. Temos conhecimento e acesso aos mercados internacionais e podemos fazer as ligações entre os vários departamentos do BNA e os diferentes países aonde estamos representados.
Esteve durante 15 anos consecutivos na liderança do Standard Bank Moçambique. Que comparação faz entre o mercado angolano e o moçambicano?
Se fizermos uma comparação com Moçambique verificamos que o potencial de Angola é muito mais amplo. Angola é um país que está a crescer como se poder ver, por exemplo, em termos de produção local. Com a aposta na produção local, o país sairá a ganhar e o sector bancário será um dos grandes beneficiados. Relativamente aos mercados capitais, penso que Moçambique já está mais avançado, e isso é estranho, porque a economia angolana é maior. Em Moçambique já existe compra e venda de acções, já existem obrigações, mas em Angola as pessoas ainda não podem comprar acções na bolsa. A economia moçambicana é muito mais pequena em comparação com a angolana, e isso demonstra o grande potencial de crescimento que o vosso país tem.
Assume a gestão de um banco que acaba de anunciar um resultado líquido equivalente a 22 milhões de dólares em 2014. Manter ou elevar esse crescimento será, com certeza, um desafio para o senhor. Além deste, que outros desafios encontrou no SBA?
O meu grande desafio é continuar com o crescimento do Standard Bank Angola. Um banco tem de ser relevante na economia em que está a operar e para sê-lo tem de ter um bom desempenho, uma carteira de crédito atractiva e um activo atractivo em comparação com as outras instituições. A minha grande estratégia será posicionar o Standard Bank no top cinco dos bancos em Angola.
Mas actualmente o banco ocupa a oitava posição no mercado, em termos de captação de depósitos, com cerca de 2,9%. O que pensa fazer para conseguir colocar o SBA no top cinco dos bancos angolanos?
A nossa estratégia estará voltada para a qualidade dos serviços e o Standard Bank tem muita experiência nessa matéria. Todos os produtos bancários podem ser copiados.
Quando se lança um novo cartão de crédito ou um produto novo, depois de três ou seis meses, todos os bancos têm, mas é muito difícil copiar a qualidade. Temos de melhorar a qualidade de serviço ao cliente para ganhar a confiança destes. Vamos manter a solidez do banco, que é uma marca que nos caracteriza a nível do mundo. Em África somos um banco com qualidade impressionante no nosso balancete, portanto, esses pontos ajudam-nos a manter a nossa quota de mercado e a concorrer nos diferentes mercados aonde estamos.
Fala-se de uma possível crise interna a nível do Standard Bank Angola que já resultou em despedimento de funcionários e abandono de trabalho. É verdade?
É assim, eu penso que no sector financeiro as pessoas têm sempre a oportunidade de passar de uma instituição para outra. O Standard Bank passa a ser um banco de formação, que é um título que temos em muitos países e acho que somos uma boa escola e fizemos grandes investimentos na formação de quadros.
Em Moçambique, durante a sua gestão, o Standard Bank obteve um lucro líquido de 50 milhões de dólares em 2014, representando um crescimento de 27% face ao período homólogo de 2013. Do que resultou esse incremento?
É resultado do crescimento da carteira de crédito. Com a utilização da nossa liquidez de forma sólida apoiamos muitos projectos do Estado em termos de infraestruturas, por exemplo, caminhos-de-ferros, portos, aeroportos, etc. O banco teve muito investimento em relação aos projectos do Estado moçambicano. Portanto, se queremos que uma economia cresça ela deve ter apoio do sector financeiro.
O Estado não consegue fazer tudo sozinho, precisa de algum financiamento e, se o projecto for viável, não há razão para o banco não financiar. Por outro lado, em Moçambique, melhoramos muito os nossos serviços, é disso que resultou o nosso lucro líquido em 2014.
Aqui em Angola, o SBA anunciou que irá manter o financiamento a economia durante o presente ano económico, sendo que actualmente já disponibilizou cerca de 480 milhões de dólares para sectores como Indústria e Energia. Não é um grande desafio tendo em conta o actual contexto do mercado angolano?
Penso que existe potencialidade para continuarmos a ceder o nível de crédito no país. Um banco como o nosso, que tem um nível de liquidez extremamente alto, precisa de aplicar essas receitas em algum sítio, não podemos nos fechar. Portanto, o Standard Bank tem potencialidade para financiar vários projectos a nível do país, desde que sejam rentáveis. Um bom negócio para nós é quando o banco ganha e o cliente também ganha.
O Standard Bank tornou-se esta semana, na quarta instituição financeira admitida como intermediário financeiro na Bolsa de Dividas e Valores de Angola. Como avalia esse novo segmento em Angola?
Temos operações em Londres e em Nova Iorque que são mercados muito mais desenvolvidos se compararmos com os mercados africanos. África do Sul tem um dos mercados mais desenvolvido em África. Existe uma grande oportunidade para os clientes do Standard Bank que pretendem entrar para esse tipo de mercado, comprando acções ou obrigações. Uma pessoa tem de ter uma carteira diversificada, não se pode ter tudo em dinheiro, e penso que o nosso banco consegue ajudar o seu cliente a diversificar o seu portefólio.
Que leituras se lhe apraz fazer sobre a actual crise financeira, provocada pela queda do preço do barril de petróleo no mercado internacional, e como avalia o seu impacto sobre a economia angolana?
É um círculo, como tudo na vida. Já assistimos períodos em que os preços estiveram extremamente altos e se verificou aumento de investimentos no sector. Hoje o preço baixou e verifica-se poucos investimentos, logo, é um círculo. Relativamente ao mercado angolano, penso que o Estado tem feito um bom trabalho em termos de controlo dos efeitos sobre a economia. Portanto, como já frisámos, isso é um círculo, e penso que nos próximos quatro ou cinco anos voltaremos a ter preços altos.
Mas neste momento, este círculo a que se refere tem afectado o bom desempenho da economia angolana…
Penso que esta é uma oportunidade para se diversificar a economia angolana. O país importa quase tudo e só exporta o petróleo e o diamante, e por isso, esta crise é uma grande oportunidade para Angola diversificar a sua economia. Relativamente às divisas como já frisei, isso é um círculo, vai chegar um momento em que o preço vai subir e obviamente entrará mais moeda estrangeira e vai-se conseguir pagar as dívidas que o país tem neste momento. Não podemos esquecer que o Estado angolano continua a ter um nível muito bom de reservas e está a ser prudente, não está a reduzir as reservas que tem para fazer os pagamentos.
Voltando à banca, no seu ponto de vista, o que Angola deve fazer para aumentar a sua taxa de bancarização?
Em muitos países a taxa de bancarização é baixa. Angola tem de começar a utilizar tecnologias e não necessariamente balcões. Hoje quase todos têm telemóveis, que é um instrumento barato se comparado com a construção de um balcão. Boa parte das pessoas em Angola vive nas zonas rurais e com telemóveis hoje já é possível, receber e transferir dinheiro, e penso que já se faz isso cá. Por isso, o Estado deve fazer mais investimentos nas empresas de tele-comunicações e no sector bancário.
Considera elevado o número de bancos existentes em Angola?
Penso que são muitos sim, e sei que vão abrir mais bancos. Mas não é o número de bancos que vai resolver problemas do mercado, como o da bancarização, por exemplo, o que vai resolver esse paradigma é a implementação de tecnologias diferentes e o aumento de balcões a nível do país.
Enquanto gestor bancário e com a experiência que tem de outros mercados, o que é que, a seu ver, falta no sector bancário angolano?
Falta inovação. Não há razão para não se ver em Angola as tecnologias que vimos em alguns países. O vosso país é um mercado avançado se compararmos com outros mercados de África. Há produtos que existem na Europa, nos Estados Unidos e mesmo a nível de África que ainda não vimos em Angola. Mas penso que com a concorrência que existe no mercado angolano, não vai demorar muito e veremos novos produtos e novas tecnologias bancárias.
Standard Bank é o novo membro de negociação da BODIVA
A conversa com o nosso interlocutor aconteceu, na terça-feira 07, no 5º andar do edifício sede da BODIVA, minutos depois de o Standard Bank se ter tornado oficialmente, no quarto intermediário financeiro da Bolsa.
Com duração de aproximadamente 20 minutos, os tópicos da entrevista geriram em torno da economia, do mercado financeiro, com destaque para a banca e a actual crise no sector do petrolífero.
Para António Coutinho a assinatura do contrato com a BODIVA é importante na medida em que o instrumento (Bolsa) vai encorajar o desenvolvimento da economia. É simpático e de trato fácil e tem sotaque africano.
Enquanto prolongou a conversa não parava de mencionar as palavras “Qualidade” e “Circulo”, tudo isso, porque queria que ficasse claro e esclarecido que a qualidade dos serviços é o segredo do sucesso do banco que representa e, que a actual crise do crude no mercado internacional, é apenas uma consequência natural da vida.
“A vida é feita de altos e baixos e, neste momento, o petróleo atravessa um mau momento para os países exportadores”, só isso, e “penso que nos próximos quatro ou cinco anos voltaremos a ter preços altos”.Da conversa veio uma revelação: O novo homem “forte” que vai orientar os cálculos financeiros do Standard Bank Angola gosta de ouvir música clássica. Nutre também uma paixão pela literatura americana e gosta de futebol inglês.
Novo “Player” na BODIVA
O SBA foi admitido como o quarto intermediário de negociação e pós negociação na Bolsa de Dívida e Valores de Angola (Bodiva).
O contrato foi assinado, pelo nosso entrevistado, na qualidade de presidente da Comissão Executiva do Standard Bank, e pelo presidente do Conselho de Administração da BODIVA, António Furtado.
António Coutinho assume a “pasta” de PCE do SBA numa altura em que a instituição já preparava as condições para entrar no mercado de capitais. E mais, semanas antes, o Standard Bank anunciou o peso líquido do seu exercício do ano transato, avaliado em cerca de 22 milhões de dólares.
A entrada do Standard Bank como membro da bolsa foi bem aplaudida pela direcção da BODIVA, por ser uma entidade de intermediação financeira com experiência internacional. Com a assinatura do documento o SBA, que doravante é liderado por António Coutinho, pode intermediar a plataforma de negociação e pós negociação com outros agentes, sobretudo, no que diz respeito aos direitos e obrigações das partes.
Segundo consta, o contrato autoriza a entidade financeira (Bancos ou Correctores) a operar directamente no mercado de capitais.
Perfil
Quinze anos no “comando” do SB Moçambique
Aliás, foi em Moçambique que deu os primeiros passos na banca, lá para meados dos anos 90, como funcionário do antigo banco Standard Totta.
Ainda na década de noventa. Quando o Standard Bank comprou 97% do Standard Totta e muda o nome para Standard Bank Moçambique (SBM), António Coutinho foi nomeado director financeiro, antes de assumir o cargo de administrador delegado.
O bancário também teve uma passagem curta pelo banco sul-africano Financial Bank, aonde trabalhou como auditor.
Coutinho, que viveu 20 anos em Moçambique, gosta de dizer que conhece bem Angola. Antes de desembarcar em Luanda para ocupar a pasta de presidente da Comissão Executiva do Standard Bank Angola, António Coutinho vinha repetidas vezes à capital angolana, em serviço, para participar nas reuniões do Conselho de Administração do banco, aquando da liderança de Pedro Pinto Coelho, seu antecessor.
Em Moçambique António Coutinho foi substituido por Adimohanma Chukwuma Nwokocha, um antigo quadro do grupo Standard Bank.
Fala três línguas, nomeadamente, português, inglês e afrikaans, idioma que aprendeu durante a formação primária e secundária, na África do Sul. (semanarioeconomico.ao)