Fernando Teixeira dos Santos considera que o modelo de crescimento económico anterior à atual crise dá sinais de estar a voltar, ao contrário do que seria desejável, e apesar dos sinais de retoma existentes é exagerado falar em milagre económico.
O antigo ministro das Finanças e atual professor universitário diz, em entrevista à Lusa, que pelos números relativos aos últimos trimestres a economia portuguesa chegou “ao fim de um processo de degradação contínua, quer em termos de economia e do seu crescimento, quer em termos do próprio mercado de trabalho, com o agravamento do desemprego”, mas alerta que há ainda “fatores que devem merecer atenção, por um lado quanto à robustez ou não desse crescimento, e por outro, quanto ao motor desse crescimento”.
Fernando Teixeira dos Santos lembra que o comportamento das várias componentes do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos trimestres “tem apontado para uma retoma do consumo e não tanto do investimento” e que “as exportações continuam a ter um papel importante, mas as importações começam já a recuperar alguma dinâmica” que é “desfavorável refletindo a dinâmica da procura interna que tem sido menos negativa”.
Ou seja, explica Teixeira dos Santos, “aquilo que eram os traços do crescimento anterior parecem estar a vir ao de cima e aquilo que pretendíamos, um crescimento mais alicerçado nas exportações e no investimento, parece ainda não estar aí”, por outro lado, acrescenta que mesmo o crescimento das exportações tem muito a ver com o comportamento dos combustíveis “e portanto aquilo que seria um claro peso crescente de setores transacionáveis mais competitivos na economia ainda não se nota”.
Teixeira dos Santos conclui, assim, que “perante esta falta de sinais concludentes quanto a uma mudança de paradigma do crescimento, é prematuro estarmos a falar de um milagre económico”.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE) a economia portuguesa registou no quarto trimestre de 2013 o terceiro trimestre de crescimento em cadeia e o primeiro trimestre de crescimento homólogo depois de 11 trimestres de quedas consecutivas.
Segundo o Instituto, no último trimestre do ano “o contributo positivo da procura externa líquida aumentou devido à aceleração das exportações de bens e serviços”, mas a evolução registada “foi determinada, em larga medida, pela recuperação da procura interna, que apresentou um contributo positivo para a variação homóloga do PIB, o que não se verificava desde o quarto trimestre de 2010, refletindo principalmente o comportamento do consumo privado”.
Em 2013, a economia portuguesa recuou 1,4% quando em 2012 tinha recuado 3,2%. (jn.pt)