Gibrel Vena, 32 anos, oficial da Polícia Nacional, xadrezista e dirigente desportivo, foi a enterrar, em Ndalatando, em consequência de um acidente vascular cerebral. A morte do jovem abalou a cidade. A viúva é acusada de ter provocado a sua morte. Cantos entoados durante o óbito retrataram tal situação, por isso foi expulsa do velório. Os familiares do defunto acham que ela o traiu. Mas a viúva responde que foi vítima de maus-tratos permanentes provocados por ciúmes delirantes do marido. A falta de diálogo e a incompreensão destruiu um lar e causou um grande sofrimento a todas as partes.
O cassumba (soba grande) da comuna de Aldeia Nova, Banga, Cardoso Dombe, tem mais de 90 anos e já viveu muitos cacimbos. Sobre a questão do adultério, disse que no passado as consequências negativas eram acauteladas, segundo os costumes de cada região.
Na tribo mahungo (municípios de Bolongongo, Banga e Kikulungo, no Kwanza-Norte, e Dange, no Uige) quando o homem era traído queixava-se ao soba que de imediato convocava o casal e respectivas famílias para uma reunião.
O “intruso” indemnizava o marido traído com dinheiro ou em géneros. O soba dirimia o problema sob o lema “quem não tem dentes não come carne seca” pelo que se o homem assumia a incapacidade sexual, tinha três opções, em função da sua idade. A primeira era optar pela separação e acabavam os problemas.
A segunda era aceitar passivamente o novo parceiro da esposa, mas ela ficava em casa com a normalidade habitual para assegurar a união da família, alimentação e outras necessidades básicas.
A terceira era escolher um dos sobrinhos para satisfação dos prazeres da cônjuge do tio.
“Assim muitos casais envelheciam em paz e os filhos tinham a educação desejada”, disse à nossa reportagem o soba Kiagi, que teve 30 mulheres e registou 50 filhos mas nenhum era biológico.
“O gatuno rouba uma mandioca, mas a lavra não é dele”, exemplificou.
Educar os casais
José Pereira António, 72 anos, de Ndalatando, tem a sua versão: “o chefe da sanzala pedia à mulher adúltera para decidir se optava pelo marido. Caso tomasse essa decisão, tinha que cortar com o amante, sob o risco de sofrer castigos severos se houvesse reincidência”. No passado, as tias ensinavam as sobrinhas a lidar com os homens, os padrinhos assumiam-se como guias espirituais, por isso havia rigor na sua escolha, disse Graciana Eugénia Caetano, 57 anos, professora e finalista da licenciatura em Linguística.
Aconselha os casais de hoje a procurarem o positivo das experiências do passado, pois havia educação específica para homens e mulheres na óptica do matrimónio. “A educação moral, cívica, religiosa, a formação de formadores devem ser reforçadas. A imprensa, psicólogos e sociólogos também são preponderantes”, disse Graciana Caetano.
Opinião dos cientistas sociais
O Professor Doutor em Sociologia, António Santana, disse que a prática sexual é a base do sistema marital e quando falha é preciso dialogar até uma parte ceder. A via pacífica para resolver conflitos familiares proporciona mais compreensão, mais carinho, atenção à família e esposa, menos rigidez ideológica.
A falta de sexo torna os homens propensos ao conflito, ao nervosismo, à desconfiança e ao controlo excessivo sobre a mulher. “A satisfação sexual é um dos elementos que dá força ao casamento, um contrato social presidido pelo matrimónio”, referiu António Santana.
Na perspectiva de um conflito latente, o sociólogo aponta como salvaguarda da estrutura da família vários factores, entre os quais respostas adequadas e actividades positivas dos pais para os filhos.
O psicólogo educacional, Abreu da Conceição Miguel, disse que alguns comportamentos vigentes são reflexos da aculturação provocada pela globalização.
Médicos garantem que aumenta o número de homens casados sem prática sexual, provavelmente por ingestão excessiva de bebidas alcoólicas.
Atracões do Kwanza-Norte
A vila do Dondo, no município de Cambambe, província do Kwanza-Norte, tem praias fluviais que atraem os turistas que visitam a região, como a de Kiamafulo, no município de Cambambe. A dois quilómetros do município do Cazengo, no sopé do morro, está a nascente de Santa Isabel e a do Sobranceiro, onde existe um parque com campos relvados, piscina (em reparação) e um miradouro.
A província do Kwanza-Norte, cuja capital é N’Dalatando, localiza-se no norte do país e é constituída por 10 Municípios: Ambaca, Banga, Bolongongo, Cambambe, Cazengo, Golungo Alto, Kiculungo, Lucala, Ngonguembo, Samba Caju, distribuídos por uma superfície de 24.110 quilómetros quadrados.
O clima é tropical húmido, com temperaturas médias anuais entre os 22ºC e os 24ºC.
Existe um aeródromo em N’Dalatando, para aviões de pequeno porte e um aeroporto que fica a sete quilómetros da cidade, para aviões de pequeno e médio porte.
O acesso por via rodoviária pode ser feito a partir de Luanda, Huambo, Malange, Kwanza-Sul e outras.
A província possui ligações por via-férrea com as cidades de Luanda e Malange e todas as localidades ao longo da via-férrea, que tem uma extensão superior a 600km.
Isidoro Natalício | Ndalatando
Fonte: Jornal de Angola
Fotografia: Jornal de Angola