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Sexta-feira, Novembro 1, 2024

Moçambique: Revolta e indignação em manifestação contra raptos e guerra

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(foto mauro vombe/afp) - portal de angola
(Foto MAURO VOMBE/AFP)

Discursos extremados contra a atuação do Governo na crise político-militar e na onda de raptos que ensombra Moçambique marcaram intervenções na manifestação “Marcha pela paz e contra os raptos”, que juntou milhares de pessoas em Maputo, esta quinta-feira.

Concentrados na Praça da Independência sob um calor tórrido, e após uma marcha pacífica que atravessou algumas das principais ruas da capital moçambicana, os milhares de manifestantes presentes ouviram, durante cerca de duas horas, várias intervenções duras de membros da sociedade civil e de confissões religiosas, artistas e estudantes.

“O crime organizado está na polícia, na procuradoria, nos tribunais. Queremos ação, não queremos discursos. O nosso voto está em questão”, afirmou Nazir Lunat, representante da comunidade muçulmana, num discurso que acentuou um eventual resfriar nas relações do grupo com o Governo moçambicano.

“Já falámos com o antigo primeiro-ministro (Aires Ali) e com o atual (Alberto Vaquina) e, até agora, nada”, acrescentou Nazir Lunat, referindo-se à não resolução da onda de raptos que tem assolado o país e que tem visado sobretudo membros da comunidade muçulmana.

“Povo no poder”

De forma sintética, mas melódica, o músico de intervenção social Azagaia, que, à semelhança de outros oradores, usou o tom discursivo do antigo Presidente da República moçambicano Samora Machel, incitou os manifestantes a gritarem consigo palavras de ordem contra os “ladrões, corruptos e assassinos”.

“Digam: povo no poder, povo no poder, povo no poder sim! Digam: não temos medo, não temos medo, não temos não! Ladrões, fora! Corruptos, fora! Assassinos, fora!”, gritava Azagaia, enquanto a multidão ressoava as suas palavras.

Embora quase todos os discursos proferidos tivessem obtido dos manifestantes evidentes e ruidosos sinais de concordância, a intervenção de Alice Mabota, presidente da Liga dos Direitos Humanos de Moçambique (LDH), foi, sem dúvida, a mais efusiva e também aplaudida.

Alice Mabota destacou, no caso da crise político-militar, “o rompimento das negociações em torno da lei eleitoral e outras matérias e o reinício dos confrontos entre ambas as partes (autoridades e guerrilheiros da Renamo), que já causaram um número considerável de vítimas mortais, entre militares e civis, não divulgados”.

Apelo à comunidade internacional

Já sobre a vaga de raptos que tem afetado dezenas de pessoas, a ativista disse que o “caso mais grave aconteceu na cidade da Beira, e que culminou com o bárbaro assassinato de um menor de apenas 13 anos, que se tornou no primeiro mártir desta guerra não declarada e sem rosto”.

Ao longo da intervenção que fez, que acabaria por ser interrompida quando teve de receber apoio médico devido a “problemas de tensão alta”, a presidente da LDH incitou o Governo a aumentar os salários das corporações policiais como forma de combate ao crime, pedindo ao chefe de Estado que resolva “o problema dos amigos comandante geral da polícia e comandante da Força de Intervenção Rápida (FIR)”.

“Se tem amizades pessoais com eles, é nos negócios, não é na vida das pessoas. Não estamos contra a figura de Armando Guebuza como pessoa, estamos contra atitudes que estão a acontecer neste país”, disse.

Por outro lado, e numa mensagem claramente destinada ao exterior, Mabota sublinhou que o país “não quer o apoio do Zimbabué – eles que resolvam os seus problemas e não se metam nos nossos-, do Brasil – que deve resolver as manifestações deles -, não quer os aviões dos russos – que trouxeram sangue durante muito tempo”.

A ativista lançou ainda um apelo à “Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), União Africana, CPLP, União Europeia, Commonwealth e Nações Unidas, para que tomem medidas firmes para evitar a deterioração da situação político-militar e social do país”. (jn.pt)

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