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Sexta-feira, Outubro 18, 2024

Agitação nos corredores do Standard Bank Angola

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 - portal de angola
Funcionários do Standard Bank em Angola questionam os critérios de funcionamento

Funcionários do Standard Bank em Angola questionam os critérios de funcionamento, selecção de pessoal e despedimentos que continuam a ocorrer em catadupa no seio desta instituição bancária de origem sul-africana.

Os primeiros indícios de descontentamento foram divulgados numa carta aberta, que os funcionários intitularam “manifesto de revolta dos trabalhadores nacionais do Standard Bank”, endereçada ao governador do Banco Nacional de Angola, ao departamento de supervisão desta instituição, assim como aos titulares dos ministérios da Administração Pública, Emprego e Segurança Social, Finanças, Serviços de Migração e Estrangeiros e outros.

Queixam-se de despedimentos arbitrários, como o que recentemente ocorreu com quatro funcionárias.

Entre as causas da demissão das funcionárias constam, segundo os queixosos, o facto de algumas senhoras se terem recusado a servir como empregadas na residência do representante do Standard Bank em Angola, Pedro Pinto Coelho, um cidadão português que esteve ligado ao Banco Internacional do Funchal (BANIF).

Além das empregadas, que terão chegado a um acordo de indemnização com a direcção, com salários de quatro e seis meses, outros quadros foram apeados pela equipa encabeçada por Pedro Pinto Coelho.

O PAÍS apurou que uma das ‘injustiçadas’ terá sido a ex-trabalhadora Hélia Pampa, que foi afastada dias antes por alegada “falta de pontualidade e assiduidade, incumprimentos das normas gerais do banco”.

A ex-trabalhadora do Standard, agora empregada num outro banco, enviou mensagens a mais de 50 colegas assegurando que sempre compareceu no local de trabalho e cumpriu com as suas tarefas e obrigações desde que entrou no banco. Mas apontou o dedo à secretária Talita por quem diz ter sido “desrespeitada várias vezes, mas nunca fiz caso disto”.

Talita é uma cidadã que nos foi identificada como sendo brasileira, contratada para o posto de secretária do Presidente da Comissão Executiva do banco de capitais sul-africano em Angola. Foi recrutada a partir do Brasil, onde Pedro Coelho serviu os escritórios do banco fundado pelo malogrado Horácio Roque.

Na lista de pessoas que deixaram a casa consta ainda Nelson Silva, antigo director do Private. Foi afastado do posto por orientação do responsável máximo da instituição e o lugar terá sido ocupado por um cidadão que se presume que seja também português, de acordo com as fontes deste jornal.

Pedro Cunha também preferiu afastar-se, estando agora num outro banco angolano. O segundo homem do Standard Angola, o português Paulo Fontes, também colocou o lugar à disposição no dia 27 de Outubro. Técnicos da instituição, que funciona no edifício Kuando Kubango, localizado no condomínio Belas Bussiness Park, explicaram que Paulo Fontes não teve outra saída senão abdicar do lugar, depois de a direcção ter colocado como co-director das operações Victor Calhau, outro cidadão luso que se diz oriundo de uma empresa de consultoria e auditoria onde exercia funções de ‘project manager’.

“Claro que para um homem de princípios como o senhor Paulo Fontes logo percebeu que isto só podia ser uma forma subtil de ser afastado de um projecto que ele esteve desde o início a montar, especificamente no que respeita a criação da direcção de operações gerais, que inclui não só a direcção de operações bancárias como a de aprovisionamento, instalações, infra-estrutura e informática”, revelaram as fontes do Standard.

Alguns funcionários que foram afastados foram indemnizados, embora os nacionais não recebam na mesma proporção que os estrangeiros.

Para suprir as vagas abertas pelas demissões, tanto de angolanos como de expatriados, as fontes revelaram que o CEO Pedro Pinto Coelho recorre frequentemente ao mercado bancário português. E actualmente, apesar de não possuir uma comissão executiva com vários administradores, o Standard Bank Angola reserva os principais cargos aos técnicos expatriados em detrimento dos quadros nacionais.

Nos últimos meses passou a recrutar também as esposas dos trabalhadores provenientes de Portugal. “Em alguns casos contrataram mesmo marido e mulher. Existem alguns casais no seio do banco. Ainda não tem muitos clientes, mas estão a criar postos para acomodar pessoas que lhe são próximas”, realçou outra fonte.

Uma fonte contou que quando um angolano é retirado do posto de trabalho por falta de “volumes”, como o próprio mencionou, passadas poucas semanas entra um português no lugar com um salário cinco vezes superior, casa, carro, viagens para a família e contas pagas.

“Lamentamos que às vezes um técnico só por ter vindo de Portugal recebe o dobro do salário auferido por um director angolano, isso sem contar com todos os privilégios oferecidos. Até para controlar os telefones importamos funcionários”, queixou-se um dos trabalhadores.

Com pouco tempo de serviço e sem muitas agências no mercado angolano, o Standard Bank Angola, de acordo com informações fornecidas por quadros seniores da instituição, possui perto de 30 ‘Heads’ (directores ou responsável de área). Diz-se que do grupo apenas dois sejam cidadãos nacionais, embora existam outros funcionários provenientes de Portugal que se afirmam como verdadeiramente angolanos.

Mas alguns trabalhadores chamaram a atenção para o facto de se assistir uma correria frenética quando se suspeita de qualquer inspecção da parte do Ministério da Administração Pública, Emprego e Segurança Social (MAPESS). Sugerem que o Serviço de Migração e Estrangeiros também apure a situação migratória dos funcionários expatriados, por suspeitarem que muitos estejam irregularmente no país.

Os trabalhadores angolanos chegaram a escrever à empresa de consultoria KMPG para que esta fizesse chegar as suas reclamações aos escritórios centrais do Standard Bank, na África do Sul. Ainda não tiveram qualquer resposta.

 

Direcção diz que analisa reclamações

Em resposta a um e-mail enviado por este jornal, onde constavam as principais acusações em relação à sua figura, o Presidente da Comissão Executiva do Standard Bank em Angola, Pedro Pinto Coelho, disse ter recebido “outros pedidos neste sentido”, mas que seria o seu colega Nuno Monteiro, responsável pelo marketing, que “faria chegar à nossa resposta”.

Quatro dias depois, Nuno Monteiro garantia, através de um comunicado, que a sua instituição “promove a igualdade de oportunidade para todos os colaboradores, orientando-os para os resultados e méritos”.

“O banco tem uma política transparente de recursos humanos, encorajando os colaboradores sempre que necessário apresentar questões ou reclamações dentro dos canais competentes”, lê-se ainda no comunicado endereçado a O PAÍS.

Quanto às questões relacionadas ao banco e ao seu Presidente da Comissão Executiva, a carta revela que “elas estão neste momento a ser alvo de análise”.

Este jornal apurou que em resposta aos funcionários, Pedro Pinto Coelho escreveu a estes no dia 9 de Outubro realçando alguma surpresa por ter recebido “inúmeros contactos de diversos colaboradores preocupados e perplexos com os e-mails anónimos que circulam dentro e fora da nossa organização.

Preocupados porque não se querem identificar com estes actos nem com as pessoas envolvidas, perplexos por saberem o quanto falsas são todas estas acusações”.

Num claro recado “aos indignados do banco”, Pedro Coelho salientou que “é com imenso gosto que vos digo que a minha vivência em Angola tem sido gratificante e isso se deve em parte aos bons laços de amizade que criei nestes dois anos na sociedade angolana”.

“A minha recomendação para todos aqueles que vão trabalhar contrariados, e que não se identificam com a estratégia do banco, é que tomem uma de duas decisões: passar a ter uma atitude positiva e respeitarem todos aqueles que estão aqui para trabalhar ou então procurem outro lugar onde sejam mais felizes.

Meus amigos, muito me preza comunicar-vos que a lista de cidadãos angolanos competentes e capazes que pretende trabalhar connosco cresce todos os dias”, sugeriu o gestor luso.

Dani Costa
Fonte: O Pais
Foto: O Pais
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