O Presidente da Guiné-Bissau iniciou esta quinta-feira (08.10) a sua primeira viagem oficial a Portugal com o intuito de iniciar uma parceria estratégica com o país. Analista considera visita a Lisboa “jogo político”.
Umaro Sissoco Embaló chegou na quarta-feira (07.10) a Lisboa para a sua primeira visita oficial enquanto chefe de Estado guineense. Fá-lo num contexto de crise por causa do novo coronavírus, mas com o intuito de promover uma parceria estratégica mais activa com Portugal.
Segundo o Presidente guineense, a Guiné-Bissau conta com o apoio de Portugal em todos os domínios, deixando para trás os períodos de crises cíclicas. “Nós desejamos construir com Portugal uma parceria especial e estratégica, cujos pilares pretendemos que fiquem definidos nesta visita. Sei que a ministra dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau, [Suzi Carla Barbosa], já teve um encontro com o seu homólogo português, o ministro do Estado dos Negócios Estrangeiros [Augusto Santos Silva]”, referiu.
Umaro Sissoco Embaló reforçou junto do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, o seu desejo em trabalhar com Portugal para a consolidação do Estado guineense. Para além de anunciar reformas profundas da administração pública, disse: “Vou falar com os empresários portugueses. A crise [política] na Guiné-Bissau ficou para trás. Há uma nova Guiné-Bissau. Convido os portugueses [no sentido] de incentivar essa parceria entre a Guiné-Bissau e Portugal”, afirmou.
Marcelo Rebelo de Sousa assegurou a disponibilidade de Portugal em apoiar a Guiné-Bissau em todos os domínios, no plano bilateral e multilateral, apesar da actual conjuntura determinada pela pandemia da Covid-19. “Mas além da cooperação no domínio da saúde, que já se traduziu em Julho e Agosto numa presença portuguesa no país irmão da Guiné-Bissau, o que é facto é que há no domínio da cooperação linguística, educativa, cultural, económica, empresarial e social um mundo de iniciativas a desenvolver”, sublinhou.
Manifestações pró e contra Umaro Sissoco
O primeiro dia de visita do Chefe de Estado guineense ficou marcado por manifestações à porta do Palácio de Belém, onde Marcelo Rebelo de Sousa recebeu o homólogo. “É o Presidente de todos os guineenses. A partir do dia 27 de Março, quando ele foi empossado, para mim, acho que foi o dia da verdadeira independência”, disse Lassana Dabá, um dos apoiantes.
Também houve protestos contra a visita do chefe de Estado da Guiné-Bissau. “Viemos aqui reclamar que o Presidente de Portugal não devia receber os golpistas que assaltaram o poder. Estamos contra isso”, afirmou à DW África o guineense Armando Barbosa.
Depois do almoço oficial com Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da Guiné-Bissau e comitiva foram recebidos na Assembleia da República, ao que se seguiu um encontro, no final do dia, com o primeiro-ministro português, António Costa, que deverá visitar o país africano ainda este ano.
No Palácio de São Bento esteve em cima da mesa o incremento da cooperação considerada “excelente” entre os dois países, conforme antecipou a ministra guineense dos Negócios Estrangeiros, Suzi Carla Barbosa, em entrevista à agência Lusa. “Se tudo correr bem, antes do final do ano, o primeiro-ministro português vem à Guiné-Bissau e assinará o próximo PEC [Programa Estratégico de Cooperação]. Nesta visita, nós vamos propor a Portugal as áreas que nós consideramos prioritárias. É bom saber que com Portugal, trabalhamos sobretudo nas áreas da saúde e da educação, que também são prioritárias para a Guiné-Bissau”, revelou.
“Jogo político”
Para o guineense Tamilton Teixeira, mestre em Sociologia, a escolha de Portugal para esta primeira visita de Estado a um país europeu faz parte do “jogo político” do Presidente guineense.
“Ele tem as suas prioridades pela África francófona, porque é onde melhor se encaixa. Eu diria que talvez o Presidente Sissoco preferisse ser recebido nesta altura pelo Presidente Macron [de França] do que propriamente pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Mas enquanto a situação não se resolve do ponto de vista de uma visita oficial a França como Presidente da República, Portugal deve ser muito rapidamente [um parceiro] estratégico por conta daquilo que também foi a relação histórica, política e diplomática”, comenta.
O colunista do jornal “O Democrata” diz que Umaro Sissoco Embaló precisa desta visita para deixar claro que a antiga colónia, hoje um Estado soberano, não quer colocar Portugal de lado. “Até porque Portugal é o reduto – se podemos assim dizer – do seu ex-adversário político na última eleição [presidencial]. Ele precisa de disputar este espaço por vários motivos”, referindo-se ao facto de Domingos Simões Pereira ter escolhido Portugal para viver nos últimos meses.
Esta sexta-feira (09.10), o chefe de Estado guineense participa numa mesa-redonda com empresas portuguesas. Só depois disso, Umaro Sissoco Embaló deslocar-se-á à sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), onde tem lugar uma sessão solene com os representantes de todos os estados-membros da organização.
Na reta final da sua visita, encontrar-se-á no sábado (10.10) com a comunidade guineense.